segunda-feira, 28 de março de 2011

Baixo Parnaiba - sem saída


 
Raimundo Viana



Advogado e professor universitário, vice-presidente da Academia Brejense de Letras



E-mail: rcv@elo.com.br



Retornei, recentemente, do Baixo Parnaíba. Precisamente, do povoado Formiga, município de Anapurus. Foi mais uma visita de cunho sentimental. Faço-o periodicamente. O que me faz bem!... Desta feita, nem tanto!...



Outrora, em lá chegando, percorria os caminhos da infância. Agora, não os encontrei. O cerrado que emoldurava toda aquela região substituíram-no vastos campos de eucalipto, e de soja (desta em menor quantidade). Da fartura do pequi e do bacuri quase nada restou. Os animais silvestres, ora em extinção, em busca de abrigo, transitam errantes e sem destino. Até o chilrear da fogo-pagou apagou-se. Outrora, um cantochão evocador de minhas emoções de menino. Hoje mera crônica de um passado!... O eucalipto os substituiu todos. E o Baixo Parnaíba mudou no seu cenário ecológico. No humano também!... Para melhor ou para pior?... Não sei!... A ver!...



Nada contra a mudança. Lamento a oportunidade perdida. O eucalipto, vira e mexe, classificam-no de predador da natureza. Não o analiso sobre esse aspecto. Façam-no os ambientalistas. Sei-o, hoje, uma riqueza do Baixo Parnaíba capaz de propiciar o crescimento humano da Região. Basta que o homem o torne parceiro na sustentação da própria vida. O que me não parece acontecer. Infelizmente!...



Instalou-se, em Imperatriz, a fábrica de celulose. Parabéns para os gestores municipais da região tocantina. Sensibilidade social é isso! Os do Baixo Parnaíba e sua representação nas casas legislativas seguem cegos, surdos e mudos, sentados num montão de votos, de costas voltadas para o povo. Lá atrás, toda uma população, sem direito de sonhar, fica a ver o eucalipto passar!... E com ele talvez sua única oportunidade de trabalho.! Hoje, perdida!... A persistir esse cenário, será a região a grande perdedora. Tornar-se-á mero corredor da própria riqueza. Da partilha caber-lhe-ão os possíveis prejuízos naturais. E, de quebra, uma população, indefinidamente, dependurada nos programas sociais do Governo. Não mais possui a terra!... Muito menos oportunidade de trabalho!...



Curioso é o silêncio de todos. Nenhum resmungo sequer! A população nada reivindica. Os políticos nem se coçam!... São de uma inércia intrigante, e irritante até. Instalados nos seus confortáveis gabinetes, usufruem do aconchego do poder. Não estão nem aí para as necessidades do andar de baixo. De olho, apenas, no palanque eleitoreiro, preocupam-se demais com o voto, e de menos com seu próprio dono, o eleitor.



Na outra ponta, dominada pelo medo de vir a perder a sinecura oficial - única garantia da própria sobrevivência - a patuléia aguarda, dócil e mansamente, o aboio condutor à urna eleitoral. E uma legião de dependentes do Estado só cresce!... A democracia padece!... E o crescimento humano não acontece!



Não há uma ação educativa de apoio àquela população. A mão caridosa do Estado não lhe alcançou a cabeça! Muito menos a alma. Ficou na barriga!... Encheu-lhe o "bucho"... De cabeça vazia segue, sem rumo, e sem destino, incapaz de estabelecer prioridades na vida; de marcar rumos; de escolher caminhos; e de, enfim, sonhar com próprio crescimento permanente e auto-sustentável. Indefesa, recebe a comunicação de massa em cuja embalagem, não raro, se misturam o joio e o trigo. A televisão chegou só e solta. Informa e deforma. Mexe com a massa. Leva-a para onde quer. Nem sempre para o melhor lugar.!... Com exemplos vindos de "cima", quase sempre pouco edificantes, invade-lhe a casa. Despreparada, sem assepsia, engole-os todos sem digerí-los. Incorpora-os ao seu modo de ser e de viver. Exclui o trabalho de sua pauta de vida. Faz as contas, e descobre que - não importa a idade - pode viver sem trabalhar. Maravilha!... As bondades do Governo garantem-lhe a sobrevivência. Qualquer acerto, fá-lo-á a viúva (prefeitura). E segue, "esperta", de estômago em festa, e carente de princípios, que lhe pautem a conduta, no seu dia-a-dia. O que só acontece com educação de vida, que valorize o trabalho. Não há outra saída! A conquista de uma vida independente e cidadã o exige...



Oxalá, esse espaço vazio não seja preenchido com a prática do assalto e da droga! Os indícios são preocupantes!... Benza Deus a euforia de hoje não vire a lágrima de amanhã!- E a região fique sem saída1...

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