segunda-feira, 4 de junho de 2012

Trabalhadores Rurais de Açailândia celebram Festa da Colheita, protestam contra a Vale e cobram políticas públicas para o campo


A 5ª edição da Festa da Colheita aconteceu no último domingo (3), no Assentamento Francisco Romão.


No último domingo, mais de 700 pessoas tiveram um dia diferente. Café da manhã com alimentos retirados da terra, música, dança, almoço comunitário e apresentações culturais fizeram parte da programação da Festa da Colheita. Esse ano foi a 5ª edição da festividade, que acontece nos interiores do município de Açailândia. O evento aconteceu no Assentamento Francisco Romão, a 70 km de Açailândia e contou com a presença do Bispo Dom Gilberto Pastana, do Padre Claudio Bombieri (Missionário Comboniano), do vice-prefeito do município, Antônio Erismar de Castro (PT), de líderes sociais e sindicais e de trabalhadores rurais de diversos assentamentos.
A festa foi organizada pelos moradores em parceria com os membros da Paróquia São João Batista, de Açailândia, da qual essas comunidades rurais fazem parte. O objetivo foi celebrar o dom da colheita e refletir sobre a terra como local de trabalho. De acordo com o Bispo Dom Gilberto Pastana, da Diocese de Imperatriz, esse evento representa a importância de um chão para que todos os agricultores possam morar e trabalhar. “Vivemos em mundo onde os agricultores estão sendo cada vez mais expulsos de suas terras dominadas pelo agronegócio. Eu penso que essa festa da colheita reflete essa realidade e ao mesmo tempo organiza esse povo para que permaneçam em suas terras e exijam políticas públicas a fim de que haja cada vez mais população no campo e no campo a gente possa ter condições de viver como o Senhor quer que a gente viva”, afirma.
As atividades da 5ª Festa da Colheita ocorreram durante todo o dia. A programação contemplou uma missa, apresentações culturais, a partilha de alimentos e manifestações de denúncia e de reivindicação de direitos. “Achamos que essa festa tem uma importância política por conta da problemática que a gente enfrenta com a Vale para fazer com que ela cumpra o seu papel social e respeite o meio ambiente e os direitos das pessoas na região de Açailândia”, conta Francisco Martins, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Açailândia.
Ao mesmo tempo em que a festa objetiva o agradecimento a Deus pelo fruto da colheita também promove a reflexão sobre as dificuldades presentes no cotidiano dos trabalhadores do campo. As comunidades rurais de Açailândia são impactadas por inúmeros problemas socioambientais decorrentes da implantação e expansão do Programa Grande Carajás, conduzido pela mineradora Vale.

Reivindicações
O Assentamento Francisco Romão é uma comunidade de 102 famílias que moram as margens da linha ferroviária. “Hoje o nosso maior problema é a relação Vale e comunidade. A gente mora bem próximo à área de duplicação dos trilhos, nós perdemos estruturas de casas em virtude de uma linha de ferro que passa dentro do assentamento”, afirma Luziane Silva, presidente da associação dos moradores do Assentamento Francisco Romão. Segundo ela, essa realidade é comum para todos os assentamentos que se localizam no Corredor de Carajás, são comunidades afetadas pelo desmatamento, pelas extensas áreas de eucaliptos geneticamente modificados, pelas obras de duplicação dos trilhos da Vale, e pelas guseiras e carvoarias.
“Durante toda a festa, o trem passava a cada 50 minutos e ficou claro para todos o quanto ele inferniza a vida das pessoas. Como a Vale vem descumprindo sua obrigação legal de propiciar segurança e vigilância, precisávamos nós mesmos fiscalizar e orientar as crianças e adultos sobre o perigo de permanecer perto da linha. Com a duplicação que está por vir, os riscos e os danos infelizmente tendem a aumentar muito, mas Vale, IBAMA e Prefeitura parecem não estar preocupados. É um descalabro”, afirma Danilo Chammas, advogado e membro da Rede Justiça nos Trilhos, também presente à festa.   

Marcha em Imperatriz

A festa da colheita serviu para motivar as pessoas que vivem diariamente os impactos dos grandes empreendimentos a buscarem políticas públicas que valorizem o trabalhador do campo e promovam a defesa da vida e do meio ambiente. Pensando nisso é que os sindicatos, movimentos e ONGs da região vão realizar uma marcha em defesa da vida e contra a destruição e mercantilização do meio ambiente na região tocantina.  A manifestação vai acontecer no próximo dia 14 em Imperatriz a partir das 9:30h com concentração no pátio da Universidade Estadual do Maranhão. 
Essa iniciativa busca ainda relembrar o Dia Internacional do Meio Ambiente, dia 05 de junho, e a realização da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorrerá de 13 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro.

Rede Justiça nos Trilhos
Larissa Santos

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