Ao longo dos últimos quinze anos, venho acompanhando os sérios e graves problemas pela posse da terra no Maranhão. Pelo menos em  mais de cinco vivenciei de perto sofrimentos de milhares de famílias, olhando de perto mulheres, crianças e homens  fazerem clamores pelo direito de justiça e de terem uma pequena área para com o suor de cada dia, retirar da terra o alimento de cada dia para viver. Quando fui membro do Conselho Arquidiocesano de Pastoral, participando de reuniões e conhecendo pessoas,  não demorou  e logo estava integrado  como colaborador da Comissão Pastoral da Terra e da Pastoral da Criança. Com o padre Chagas, coordenador regional da CPT e Pedro Marinho  estive em inúmeros municípios e nas áreas de conflitos, vendo de perto os massacres que latifundiários e fazendeiros com a conivência dos poderes constituídos impunham aos pobres e oprimidos, o que mexia profundamente com a minha consciência crítica e a indignação acabava se transformando em revolta. Mais tarde com a gestão do padre Flávio Lazzarin e  a participação de Pedro Marinho, iniciei um grande aprendizado sobre a  problemática  política, social e econômica no meio rural. Participei de inúmeros treinamentos destinados para agentes da Comissão Pastoral da Terra e conhecei  muita gente desde as lideranças que lutavam com missão profética e a determinação dos bispos Dom Franco Masserdotti, Dom Xavier, Dom Reinaldo Punder, Dom Affonso Gregory, que juntamente com muitos padres e lideranças comunitárias defendiam famílias do campo e enfrentavam o capitalismo selvagem sem medir esforços e nem temer  os que se julgavam poderosos com a proteção de inúmeras instituições de todos os poderes constituídos. Deus chamou Dom Franco, Dom Gregory e Dom Reinaldo e transferiu para Dom Xavier e aos demais membros do episcopado maranhense a missão de continuar a luta pela dignidade humana e direitos do Povo de Deus,  das centenas  comunidades ameaçadas pelo agronegócio da soja e do eucalipto, principalmente. A luta sempre teve a Igreja Católica na frente, mas não podemos de reconhecer os importantes trabalhos de entidades que deram e continuam dando suporte para a luta, como a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, o Fórum Carajás, a Fetaema, o Cimi e várias outras com forte atuação no Estado e muito viva  no Baixo Parnaiba, além da participação  em algumas oportunidades do Ministério Público, Defensoria Pública e Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Maranhão.
De todos os conflitos, muitos dos quais com mortes, perseguições empreendidas aos quilombolas, aos povos indígenas e às famílias de pequenos agricultores, muitos dos mais revoltantes foram protagonizados pelo grupo Suzano Papel Celulose no Baixo Parnaíba. É responsável  pela expulsão de centenas de famílias, empurrando jovens  para a prostituição  e para as drogas. Muitos idosos morreram de desgosto por serem obrigados a deixar a terra onde nasceram e se criaram, assim como muitos pais perderam a vida causadas pela exaustão no corte da cana  em São Paulo, Góais e Mato Grosso.  São inúmeras as denúncias de que terras devolutas estão incorporadas ao patrimônio  de grupos predadores  do meio ambiente e infelizmente vivemos a hipocrisia de que as instituições não sabem de nada. A realidade é que  milhares de famílias vivem a incerteza  de que hoje estão em suas terras de posse e amanhã não sabem  se continuarão ou se ainda estarão com vida. Atualmente são mais de 700 mil famílias em plena miséria e passando fome em todo o Maranhão e hoje mesmo o número pode ser muito maior. As desigualdades crescem e com ela a violência . O alento de milhares de famílias é de que  não estão só, e que podem contar com a Igreja Católica e centenas de entidades unidas pela luta em favor da paz e da  justiça. No momento estamos vivendo uma espécie de trégua, em razão das eleições, mas logo em seguida  os conflitos retornam. A verdade é que não há perspectiva de mudança, para tanto o governo abandonou  a pequena agricultura e o Maranhão é um grande importador de alimentos, o que tem elevado o custo de vida e aumentado as desigualdades. Falar de reforma agrária é  alimentar  um sonho de muitos agricultores e agricultoras brasileiros , e é  possível   ser transformado em realidade, com a luta diária de todos em busca de direitos, dignidade, justiça e paz.
aldir dantas