domingo, 9 de setembro de 2012

A luta contra a miséria e contra a fome no leste maranhense


O senhor Antonio João preside a associação do povoado Vertentes. Nada indica que ele exulte sobre esse fato. Ele entregaria o cargo desde que houvesse alguém para substitui-lo. Com relação aos demais moradores de Vertentes, somente o irmão do senhor Antonio João se incomoda com sua autoridade e essa rixa chegou ao seu ponto alto no instante em que contratou um pistoleiro para assassiná-lo. Depois da tentativa, os dois não se falam mais mesmo morando lado a lado. Receava-se que por puro descuido topar-se-ia com o mandante depois de bater à sua porta. Felizmente, acertou-se a casa do senhor Antonio. Guardar-se-ia os pintos no galinheiro recém-construido no quintal da sua casa.  Para construir o galinheiro dentro das especificações, o senhor Antonio e mais dois moradores de Vertentes tocaram para o Baixão da Coceira. O Baixão da Coceira e o Coceira, povoados do Polo Coceira, são reconhecidos como os primeiros, no municipio de Santa Quitéria,  a construir os galinheiros dentro de uma proposta apresentada pelo Fórum Carajás de planejar atividades de geração de renda e de segurança alimentar com comunidades em conflito direto com a Suzano Papel e Celulose.  
A presença da Suzano Papel e Celulose nas comunidades causava aos seus moradores apreensão sobre o que o futuro lhes reservava. Em muitos casos, a empresa desmatou sem que as comunidades opusessem qualquer resistência aos seus tratores, mas outras, em menor número, enfrentaram a Suzano ao mesmo tempo em que enfrentavam suas apreensões. Esse enfretamento deu resultados como no caso do polo Coceira e do Bracinho. A apreensão sobre a regularização fundiária se desfez; outras apreensões persistem.
Os galinheiros rústicos apareceram em um ambiente de total colapso das atividades de geração de renda e de segurança alimentar por parte da agricultura familiar. As famílias do interior do Baixo Parnaiba se devotam mais e mais a compra de produtos industrializados. A aquisição desse tipo de produtos raspa a parca renda obtida pelos agricultores familiares que impossibilitados de poupar não investem em suas atividades produtivas. As atividades produtivas dos agricultores familiares se desassemelham de quaisquer atividades produtivas dentro do sistema capitalista. Essa dessemelhança se estende porque a agricultura familiar trabalha com produtos em estado bruto só havendo uma modificação aqui e acolá que não compromete o conteúdo e, digamos, o agronegócio trabalha em cima de alterações do produto para que deixe a sua pureza inicial e dê lugar a uma impureza final.
          No povoado de Vertentes não há grandes extensões de babaçual. Quem quiser azeite de babaçu tem que se voltar para as comunidades de Roça Velha e Barra da Onça. Avistam-se grandes extensões de babaçual em Chapadinha, Mata Roma, Buriti de Inácia Vaz e Brejo. Os babaçuais de Santa Quitéria, por serem em menor número, dificilmente disputariam economicamente com outros do Baixo Parnaiba maranhense. Se fosse pelos dividendos econômicos, a cultura da quebra do coco e da extração do azeite de babaçu já teria morrido sem choro, sem vela e sem caixão. A luta contra a fome e a miséria impulsionam a quebra do coco e a retirada do azeite nos baixões do leste maranhense. 
Mayron Régis

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