domingo, 2 de dezembro de 2012

"Escravo, nem pensar!" realiza oficina pedagógica em Codó (MA)

Município é o líder entre os locais de origem dos trabalhadores escravizados no país

Nos dias 22 e 23 de novembro, o programa Escravo, nem pensar! realizou uma oficina pedagógica a respeito do trabalho escravo contemporâneo com professores da rede municipal de Codó (MA). A atividade fez parte da "Caravana da Liberdade”, ação social de combate ao trabalho escravo e infantil promovida pelo Tribunal Regional do Trabalho e pelo Ministério Público do Trabalho do Maranhão em parceria com a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Assistência Social e Cidadania do Maranhão, a Secretaria de Estado do Trabalho e Economia Solidária, a Defensoria Pública, entre outras instituições e organizações da sociedade civil.

Codó foi escolhido por apresentar um quadro preocupante em relação ao aliciamento de trabalhadores. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, entre 2003 e outubro de 2010, 283 residentes foram resgatados da escravidão em outros municípios e até mesmo dentro do seu território, o que lhe garante o triste posto de líder nacional nesse quesito. Importante frisar também que o Maranhão é o estado que lidera a origem dos trabalhadores libertados da escravidão no país. (No final da página, você pode conferir reportagens sobre libertações na região.)

Partindo desse contexto local, a atividade priorizou três aspectos centrais: discussão sobre migração e aliciamento, perfil dos trabalhadores resgatados e definição conceitual do trabalho escravo. A abordagem primou pelo metódo dialógico e interativo, incorporando os relatos e impressões dos participantes como subsídios para as discussões. O resultado foi muito positivo e estimulante, pois os professores demonstraram fácil compreensão e familiaridade com os fatos, restando ao espaço da oficina sistematizar os conhecimentos prévios dos participantes e apresentar novidades sobre o tema.

A pertinência da ação educativa ficou comprovada pelo forte envolvimento e a boa avaliação dos participantes. Na ocasião, a turma trouxe à tona diversos casos de aliciamento de trabalhadores para o corte de cana em cidades paulistas e de familiares, conhecidos e, até mesmo alunos, que já foram escravizados. Segundo os relatos, o aliciamento é realizado por meio de anúncios nas rádios locais e carros de som que percorrem os bairros mais carentes. As promessas de carteira assinada, boas condições de trabalho e salário garantido costumam atrair trabalhadores, frente às poucas oportunidades de emprego e renda no município, optam pela migração temporária. Em certos casos, os trabalhadores acabam enfretando situações completamente opostas e degradante.

Os participantes receberam materiais didáticos do programa, como os fascículos "Trabalho Escravo e Destruição do Meio Ambiente" e"Trabalho Escravo Urbano", que serviram de fonte para as discussões. Além disso, os professores apresentaram ideias de como utilizar os materiais para inserir a temática no universo escolar, principalmente através de projetos pedagógicos voltados à prevenção e multiplicação de informações.

O Escravo, nem pensar! planejar retornar ao município para dar continuidade à oficina e desenvolver novas atividades. Não deixe de conhecer as demais ações do programa no Maranhão.

Caravana da Liberdade

Além das oficinas pedagógicas sobre direitos humanos, trabalho infantil, trabalho seguro, educação, igualdade étnica e trabalho escravo, o evento contou com seminários, apresentações culturais e alguns serviços para a população, como emissão de Carteira de Trabalho e da Previdência Social (CTPS), recebimento de reclamações trabalhistas, coleta de denúncias de trabalho escravo e infantil e inscrições em cursos profissionalizantes.

No encerramento, as instituições lançaram a "Carta de Codó". O documento reafirma o compromisso da luta pela erradicação do trabalho escravo e infantil e faz proposições importantes, como a criação de uma Vara do Trabalho, de uma Procuradoria do Trabalho e de mais um ofício do Ministério Público Estadual no município de Codó.

Em 2013, a ideia é estender a experiência para outras cidades maranhenses.

http://escravonempensar.org.br

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