quarta-feira, 24 de julho de 2013

Um dia em Bom Jardim: superação de medos e a alegria do reencontro



Chegar a maioria das áreas de assentamento na Região do Munim demanda tempo, trabalho e principalmente vontade. No caso de Bom Jardim no P.A Rio Pirangi (com seus vastos e ricos 31 mil ha) localizado em Morros/MA, requer ainda mais: força, energia e superação dos próprios limites. Superação de medos e angústias e confiança nas suas habilidades como pessoa e profissional.
 
 
        
Pensar a construção de acordos ambientais e territoriais em nível comunitário, como os que tem sido motivados e realizados pela Tijupá em conjunto com as organizações locais dos agricultores/as familiares é considerar também (e sobretudo) nos acúmulos, valores e tradições expressos de geração em geração. Ou seja, o fator determinante, não é somente o cultivo e o local da sua roça, nos agroecossistemas existentes no entorno das comunidades, mas antes de tudo, a lembrança dos antepassados que o sucederam e os ensinaram a trabalhar, a olhar o dia e a noite, saber a hora e a lua adequada para cada cultivo, é andar no caminho e reconhecer os passos de quem por ali esteve, seja gente ou bicho do mato.
        
 
Neste contexto visualizamos o quão importante se faz o diálogo entre as entidades representativas dos trabalhadores, organizações da sociedade civil que atuam na assessoria à agricultura familiar, dos entes governamentais que executam (ou não) a política de reforma agrária, com as pessoas que de fato conhecem as áreas em que vivem. Porém, a regularização fundiária, que, de fato, é o que ocorre por estas bandas do Maranhão - em vez de uma reforma agrária propriamente dita (ou "política de assentamentos", como criticam os movimentos sociais) - tem implicado na criação ou acirramento de conflitos como nunca dantes vistos. 
 
A demarcação de perímetros dos assentamento deveriam necessariamente serem feitas com muita cautela não atropelando os “limites de respeito” pré-existentes (firmados ao longo de muitos anos entre povoados e famílias agricultoras) pois muitas comunidades tem resolvido de forma trágica os seus conflitos, na qual o princípio da vingança "vez por outra", como se diz na região, tem orientado a “solução” de entreveros inter ou intra familiares.
 
Não é difícil observar casos em que a intervenção da Reforma Agrária na sua institucionalidade racionalista e a mão o pesada dos seus servidores e parceiros na implementação dos créditos e "benefícios" desorganizam tudo o que já existia de acúmulo e convivência harmoniosa e respeito mútuo em diversas comunidades rurais. Relações de compadrio e parentesco são esquecidas, cuidados e zelos são vistos agora como pirraça entre pessoas que deixam de lado o dialogo fraterno e assumem posturas que chegam a chocar os ouvidos mas não chegam a calar a boca dos mais experientes e que lutam incessantemente para assegurar segurança alimentar e qualidade de vida a seus familiares, amigos e a comunidade de um modo geral.

 

É com tristeza e pesar que seu Raimundo mostra a devastação que está sendo feita as margens do Rio Buzo que nutre a mãe terra das famílias que praticam a agricultura familiar agroecológica na comunidade do Bom Jardim. Ele tenta entender o que leva uma pessoa “a cometer tal coisa. Um cara desse não vê que isso não é certo? Daqui de onde ele roçou até a beira do rio não dá mais de três metros ? E quando ele tocar fogo como fica? Vai acabar com tudo, nossa água, nosso banho, nossa vida, será que não percebe que também esta acabando é com a comida da casa dele?”.
  
Consequência da disputa de terra devido a um equívoco na demarcação da área que deixou de fora espaços importantes de capoeira que vinham sendo tratadas e cultivada há mais de 20 anos por uma família, que agora está impossibilitada de exercer seu “habitus” que a identifica e marca sua historia...
 
Conflitos gerados e acirrados... por incompetência dos gestores públicos? Insensibilidade ou o quê? O que importa saber é a diferença que poderemos estar fazendo na vida destas pessoas e as novas lutas e conquistas a serem alcançadas no processo educativo pedagógico que esta questão nos remonta.
 
É mais do que terra, do que água e identidade: é a vida brotando e se ajustando a cada instante e necessidade, é o ciclo da lua norteando os costumes, o canto dos pássaros, a batida do veado no mato, sou eu e você, somos nós a cada instante e a todo o momento fazendo a diferença e construindo um diálogo capaz de gestar mudanças e ampliar horizontes.



Tijupá

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