segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Após denúncia internacional, Usina Trapiche perde comercialização de açúcar



A Usina Trapiche, localizada no município de Sirinhaém, litoral sul de Pernambuco, deverá deixar de comercializar grande parte de seu açúcar, após denúncias internacionais de envolvimento em conflitos territoriais no estado.
 
A Usina deverá ter todos os seus contratos cancelados com a multinacional Coca Cola, uma das maiores compradoras de açúcar do mundo. A medida foi divulgada nesta última sexta-feira, dia 8, e é fruto de uma mobilização internacional, promovida pela ONG internacional OXFAM através da campanha Por Trás das Marcas e da divulgação do relatório O Gosto Amargo do Açúcar. O estudo aponta a relação entre a comércio internacional de açúcar com os casos de violações de Direitos, expropriações de terras e conflitos territoriais no Brasil e em mais cinco países no mundo. De acordo a OXFAM, muitas das terras adquiridas para a produção de açúcar na última década “estão relacionadas a violações dos direitos humanos, perda dos meios de subsistência e fome para os pequenos produtores e suas famílias”. Este é o caso da Usina Trapiche que, desde 1998, vem promovendo uma serie de crimes ambientais e ações de violência que acabou por expulsar uma comunidade de pescadores tradicionais de seu território tradicional: área de mangue pertencente à União, que encontra-se atualmente dominado pela Usina. A comunidade atualmente vive espalhada na periferia de Sirinhaém, em condições desumanas, longe do lugar que garantia o trabalho, a vida, a soberania e a segurança alimentar de seus membros.
 
O cancelamento dos contratos de compra do açúcar da Trapiche, por isso, não é suficiente para solucionar de vez o problema enfrentado pelos pescadores e pescadoras tradicionais na região. Diante do conflito territorial, a Campanha internacional aponta e reconhece a necessidade da criação imediata de uma Reserva Extrativista Federal (Resex) no local como a solução para reparar as violações históricas sofridas pela comunidade tradicional e para a preservação ambiental da área. O pedido de criação da Resex vem desde 2006, quando a comunidade tradicional, a Associação e Colônia de Pescadores do município, em conjunto com a população local e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), solicitaram a criação da Resex ao Instituto Chico Mendes (ICMBio) e também ao Ibama. No entanto, a criação da Resex, que obteve parecer técnico favorável do ICMBio, aguarda desde 2009 sanção do gabinete da Presidência da República.
 
Além da Usina Trapiche, outros grandes fornecedores de açúcar em cinco países também foram denunciados. No Brasil, o outro caso também acompanhado pela Campanha internacional da OXFAM é o conflito territorial no Mato Grosso do Sul, envolvendo o povo Guarani-Kaiowá que lutam pela demarcação do território tradicional, mas que atualmente encontra-se submerso pelo monocultivo da cana-de-açúcar da Usina Monteverde, operada por Bunge, grande fornecedora de açúcar para a Coca-Cola.
 
Outras informações:
Comissão Pastoral da Terra – Regional Nordeste II
Renata Albuquerque
Fone: (81) 9663.2716

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