sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A floresta da comunidade quilombola de Jenipapo



A comunidade quilombola de Jenipapo, município de Caxias, ressente-se da migração dos mais jovens para o sul do Brasil. Pelo que conta o senhor Manoel Moura, presidente da associação, existem três comunidades cujo nome é Jenipapo, diferenciando-se pelo segundo nome. “- Acaso o senhor sabe o porquê do nome Jenipapo?” “– Agora o senhor me pegou. Não sei.” “ – Mas o Jenipapo é visto por aqui, não é?” “Sim, ele é visto.” O senhor Manoel Moura e o jornalista Mayron Régis tiveram essa conversa no caminho entre a escola municipal Negro Cosme e a casa do presidente da associação. Os moradores batizaram a escola com o nome de um dos principais lideres da Balaiada, revolta de negros do século XIX. A prefeitura de Caxias queria batiza-la de escola Duque de Caxias, aquele que reprimiu as principais revoltas sociais do Brasil. Jenipapo possui dois núcleos de moradores que sofrem com a falta de abastecimento de água. Os moradores vão buscar água muito longe e trazem-na em lombos de burros. Por conta da falta de água no povoado, a escola nunca funcionou. O senhor Manoel Moura é neto de Rosa Barros, uma das primeiras lideranças da comunidade. Ela controlava os escravos a mando do antigo proprietário. Ela ocupou o lugar dele depois da abolição. O território quilombola do Jenipapo é muito vasto, contudo só se regularizou uma pequena parte. Até alguns anos atrás, os moradores de Jenipapo pagavam renda do que produziam a alguém que se arvorava a posse da área. Com o processo de regularização fundiária feito pelo Iterma e a identificação da área como quilombo, essa história de pagar renda para o outro passou.  O seu Manoel conta que precisou trazer gente de fora para forçar a regularização fundiária porque parte dos moradores antigos achava que tudo estava muito bem. O processo de regularização fundiária de Jenipapo data de 1996. O reconhecimento como área quilombola veio dez anos depois. O assentamento Jenipapo se espreme entre propriedades que estão dentro do território tradicional quilombola e essas propriedades desmatam as suas florestas e as vendem em carradas para a Barro Forte, empresa de cerâmica. A Barro Forte paga R$50 pela carrada. Perguntou-se ao senhor Manoel se ele lembrava de quando a Barro Forte começa as suas atividades na região. Ele respondeu que do final dos anos 80 para cá. Antes da Barro Forte, havia muita floresta na região.   E chovia muito? Sim, chovia muito, responderam o seu Manoel e várias outras pessoas. Os desmatamentos interferem no micro-clima de Jenipapo e das comunidades vizinhas. Só chovera metade do previsto para o mês de janeiro de 2014 em Caxias. Além da Barro Forte, a Suzano Papel e Celulose, empresa de celulose, e a Comvap e o grupo João Santos possuem grandes extensões de terra em Caxias, Matões e São João do Sóter.  Aqui e acolá rola um conflito dessas empresas com comunidades tradicionais e comunidades quilombolas. Uma desses conflitos é entre a comunidade quilombola de Jacarezinho, municipio de São João do Sóter, e a Suzano Papel e Celulose. Segundo o seu Manoel, a área total de Jacarezinho corresponde a mais de 9.000 hectares. O Ministério Publico Federal instaurou um inquérito administrativo para apurar os fatos que dizem respeito ao conflito. Nem sempre os conflitos nas comunidades tradicionais e quilombolas mostram as suas caras de maneira tão franca como ocorre com relação aos grandes empreendimentos. O capitalismo aos poucos insere as comunidades tradicionais e quilombolas no mercado consumidor. Foi-se o tempo que o capitalismo desejava os médios e grandes consumidores. As comunidades tradicionais e quilombolas consomem, atualmente, defensivos, agrotóxicos e alimentos industrializados. O coco babaçu gerou renda para muitas famílias pobres do interior do Maranhão e de Caxias. Do coco, obtém-se o azeite do babaçu e o mesocarpo. O azeite é mais difundido tanto em forma de produção como em forma de conhecimento. O mesocarpo não é da mesma forma. As mulheres, com o recurso do bolsa família, compram óleo de soja, macarrão e nescau no mercado. O mercado se globalizou, assim como os impactos ambientais também. A Barro Forte, a Suzano, a Comvap e o Grupo João Santos são empresas que necessitam de muita matéria prima durante o processo de produção. Elas conseguem muito fácil investimentos por parte do Estado e de bancos e de fundos de investimentos nacionais e internacionais. O preço que a Barro Forte paga por uma carrada de madeira é pouco, mas para quem não tem nada ou quase nada é muito. A comunidade do Jenipapo quase embarcou numa história de vender parte de sua floresta para a Barro Forte. Com o recurso, a comunidade pretendia construir um poço que serviria a escola e os moradores. As matas de Jenipapo são ricas em espécies florestais do tipo do Jacarandá, Pau d’arco, Aroeira, cedro e faveira, e em espécies frutíferas do tipo da Pitomba, Mutamba, Araticum, Tamarindo, Macaúba, Taturubá Babaçu e Jenipapo. Com o desmatamento, convergiriam vários problemas ao mesmo tempo para a comunidade: a perda da biodiversidade, mudança no microclima, perda na qualidade de vida e surgimento de doenças.   O recurso não resolveria o problema da água, porque para cavar um poço é muito dinheiro, e traria outros. As comunidades veem a floresta apenas para desmatar e vender a madeira. É preciso vê-la também como uma fonte de saúde e de forte potencial de geração de renda sem que se desmate uma árvore sequer. A comunidade de Jenipapo aceitou os argumentos apresentados pela assessoria do Aconeruq e desistiu da derrubada.  

Mayron Régis

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Imperatriz(MA): Moradores interditam estrada e paralisam obras de ferrovia da Suzano Papel e Celulose


Moradores do povoado Açaizal dos Pernambucanos, localizado a 20 km da sede de Imperatriz, interditaram o principal acesso ao povoado, no cruzamento onde está sendo construída uma ferrovia.
De acordo com as famílias, as condições da vicinal pioraram nos últimos meses porque a empresa que está colocando os trilhos, à serviço de uma Indústria de Papel e Celulose, usava a estrada para a travessia do maquinário. Agora, com as chuvas, a lama e o atoleiro impedem a passagem de veículos e, por consequência, o escoamento da produção agrícola, que garante a subsistência da maioria dos moradores.
Um representante da empresa conversou com os manifestantes, mas eles se recusavam a desocupar a área. Uma frente de serviço que trabalha na construção da ferrovia teve que paralisar o trabalho.
"Nós estamos cansados de promessas. Em dezembro fizemos uma manifestação, a empresa e a prefeitura disseram que iam solucionar nosso problema, mas nós continuamos ilhados", afirmou Fabiano Pereira, um dos líderes da manifestação.
Por causa da estrada, que está quase intrafegável, as aulas começaram mas o ônibus escolar não está buscando os alunos dos povoados. Crianças e adolescentes caminham cerca de 6km, com os pés na lama, para chegar à escola.
Egídio Sousa tem gado de leite e antes do período chuvoso, registrava uma produção de 50 litros por dia. Ele conta que deixou de fazer a ordenha porque não tem como entregar o leite, nem quem se arrisque a buscar, por causa da estrada.
"É pouca a minha produção, mas dava pra eu ganhar e comprar outras coisas que a gente precisa em casa. Só que o rapaz que vinha buscar não vai acabar com o carro dele nessa estrada", disse o pecuarista.
A Polícia Militar foi chamada, por causa do protesto dos moradores, mas a manifestação foi pacífica.
O secretário de agricultura, em entrevista ao Imirante, informou que a recuperação da estrada de acesso ao povoado Açaizal está entre as prioridades do governo. Deve ser recuperados 78 km de estradas na zona rural, começando ainda em fevereiro.
Por: Tátyna Viana / Imirante Imperatriz
http://imirante.globo.com/

ARTIGO: Agronegócio no Maranhão Produz Novo Tipo de Escravos


Cerrado ainda intacto em Urbano Santos (localidade de Bebedouro)

Situação seria reflexo dos conflitos socioambientais provocados pela atuação da Suzano e de produtores de soja do Centro-Sul que se instalaram no Baixo Parnaíba.

Por Ribamar Mesquita - Agencia ProdeTec
A conclusão é de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão ao analisar os conflitos socioambientais na região leste do Estado provocados pela atuação da empresa Suzano e de produtores de soja do Centro-Sul que se instalaram no Baixo Parnaíba. Sem condições de se manterem como camponeses, os chamados escravos do agronegócio se sujeitam a trabalhar como assalariados sob condições em que leis e direitos humanos elementares são desrespeitados.
Mais do que isso: a região estaria diante de um quadro de extermínio de práticas e cultura de grupos locais, caracterizado pelo contínuo ataque à economia e sobrevivência das famílias, pela agressão às regras tradicionais da comunidade e o desaparecimento dos ecossistemas locais com todos os seus recursos, como constatado no trabalho.
Para os pesquisadores, a situação pode ser interpretada como um etnocídio, desde que no caso do Leste Maranhense "há um processo lento de apagamento físico e cultural desses grupos, que se desenvolveu ao longo das últimas décadas e, sobretudo, nos últimos sete ou oito anos, em dezenas de municípios da região".
Coordenada pela professora doutora Maristela de Paula Andrade, a equipe responsável pela pesquisa, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFMA, reuniu 20 profissionais entre pesquisadores e colaboradores.
O trabalho em campo foi desenvolvido entre janeiro e agosto de 2011 e abrangeu visitas e entrevistas com centenas de pessoas de 41 povoados localizados, sobretudo, nos municípios de Urbano Santos, Santa Quitéria e Mata Roma.
Situação de vulnerabilidade
De acordo com o trabalho, a ampliação das áreas de cultivo de soja e de eucalipto no Baixo Parnaíba não representa propriamente melhores condições de vida às famílias da região. Pelo contrário: significa uma grave ameaça à sua reprodução material e social.
O desmatamento de vastas chapadas, o advento do arame farpado cercando amplas áreas antes livres, a morte e degradação de nascentes, rios e riachos, a proibição de criar animais soltos, além de caracterizar um quadro de injustiça ambiental, resultaram em vulnerabilidades para as famílias.
Para os pesquisadores, essa ação devastadora afeta de forma significativa a comunidade, sua organização social e econômica, sem falar nas variadas formas de constrangimento e de violência simbólica a que estão submetidas.
A devastação afeta, igualmente, outras áreas do Estado desde que a região funciona como verdadeira caixa d'água para abastecimento das bacias hidrográficas dos rios Parnaíba, Munim e Preguiças, entre os principais do nordeste e leste maranhenses.
Na localidade de Todos os Santos, município de Urbano Santos, sede de um dos projetos da Suzano, o quadro já é de desolação. A exuberância antiga do cerrado e das veredas/brejos transformou-se em mera lembrança após o desastre social e ambiental decorrente da chegada do eucaliptal hoje pertencente à Suzano Celulose e Papel.
A lagoa seca no leito do riacho Chibé, consequência da eliminação das nascentes, provocada pelo plantio do eucalipto, retrata o comprometimento da biodiversidade local onde as dificuldades das famílias chegam ao ponto de não terem acesso à água para uso doméstico.
Juntos e separados
A situação na área é de bipolaridade, em que dois grupos distintos vivem juntos e divergem sobre praticamente tudo. De um lado, o agronegócio da celulose (representado pela empresa Suzano) e da soja, a cargo dos 'gaúchos' (denominação comum aos produtores de grãos não nativos). Do outro, camponeses (pequenos produtores, sem terras. extrativistas, quilombolas etc.) que, historicamente, ocuparam a região.
Conforme o trabalho, os relatos dos impactos causados às famílias e ao meio ambiente pelo agronegócio chegam a ser dramáticos dada a situação de vulnerabilidade pela qual muitos passaram a vivenciar a partir da supressão das matas, da extinção de recursos hídricos e do impedimento à criação de animais, fatores imprescindíveis à organização social e econômica das comunidades.
"Os registros – afirmam os pesquisadores - nos permitiram apreender a importância e o significado de muitas paisagens do bioma cerrado para os camponeses, bem como acessar os diferentes ambientes onde vivem e trabalham e que asseguram sua reprodução material e social".
Na opinião dos estudiosos, a turbação desses ambientes implicam dramáticos desdobramentos para as famílias que vivem neles e dependem de seus recursos hídricos, vegetais e animais.
Resistência
Ao longo de décadas, esses recursos eram usados de forma aberta, acessíveis a todos, com o aspecto conservacionista respeitado pela maioria, o que assegurava a manutenção das chapadas, nascentes e riachos agora suprimidos pela Suzano e produtores de grãos. Em alguns casos, a resistência dos camponeses venceu a insensibilidade do capital, como na Lagoa do Bom Jesus, onde a Suzano desativou instalações a partir da reação de seus moradores preocupados em preservar os recursos necessários e indispensáveis ao seu modo de vida.
Para alem do pessoal da Lagoa, a luta desses camponeses se espalha por outras comunidades igualmente preocupadas com a preservação do ecossistema dos cerrados em toda a sua extensão, praticando "a sustentabilidade a partir da sua lógica cultural, que conserva os recursos não apenas porque dependem deles, mas porque mantêm uma relação com essas águas para além do uso econômico".
Segundo os pesquisadores, esse tipo de preocupação não permeia o trabalho da Suzano e dos chamados gaúchos que já interromperam a passagem de cursos d'água, aterram outros tantos construção de estradas ou implantação de cultivos.
O que para camponeses significa fonte de sobrevivência, para esses atores são apenas obstáculos aos seus empreendimentos. A forma como agem, longe de se caracterizar como 'desenvolvimento e modernidade' – como propalado - é, na verdade, uma fonte de malefícios para o meio ambiente e milhares de famílias presentes há séculos na região.
--A forma como comprometem essa organização social e econômica representa uma demonstração de racismo ambiental, já que desrespeitam o modo de vida dos camponeses da região, por considerá-los como a materialização do "atraso", acentua o documento.
Paradoxalmente, os supostos 'atrasados' é que empreendem ações voltadas para a defesa e preservação dos recursos naturais e do ecossistema do cerrado do Leste Maranhense, chegando mesmo a socorrer os atores do agronegócio.
Em muitas situações os pesquisadores constataram que "é justamente nesses ambientes conservados ou produzidos pelas famílias camponesas, tidas como "atrasadas", onde os carros pipas a serviço da Suzano buscam a água necessária às suas atividades".
Devastação ampla
Conforme o trabalho, o avanço da soja e do eucalipto no Leste Maranhense deixa um rastro de devastação ampla nas chapadas e a extinção de muitas espécies da fauna e da flora. A consequência imediata do desaparecimento de plantas como pequizeiros, bacurizeiros e buritizeiros, relevantes como fonte de sustentação das famílias, é a desorganização econômica de comunidades pelo comprometimento de suas opções extrativas.
Em muitos pontos da região, a exemplo do Baixão da Coceira, em Santa Quitéria, a resistência à devastação transforma comunidades inteiras em rés, na Justiça, acusadas de invasão pelos empresários. Lá, eles rechaçaram as tentativas de derrubada do cerrado para plantio de eucalipto e mantêm programas de defesa e manejo do bacuri, uma árvore nativa que acabou como símbolo da resistência camponesa na região, dada a sua relevância econômica e como fonte alimentar para as famílias.
Para a empresa e os gaúchos, entretanto, o bacurizeiro e os demais recursos vegetais do cerrado, são apenas estorvos a seus empreendimentos, daí o ataque sistemático e permanente à sobrevivência da economia camponesa, "envolvendo – como dizem os pesquisadores -- atos constantes de subversão das regras tradicionais, desaparecimento de ecossistemas com todos os seus recursos, processos estes vividos pelos camponeses como uma situação de humilhação contínua".
Para acessar o trabalho e saber mais sobre os conflitos: http://www.ppgcsoc.ufma.br.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Milícia armada cerca trabalhadores no MA após despejo forçado

29 de janeiro de 2014

Por Reynaldo Costa
Da Página do MST


Depois de uma semana despejados, trabalhadores rurais estão sem resposta do Incra sobre a criação de assentamento. As famílias que fazem parte do acampamento Cipó Cortado, em Senador La Roque, sudoeste do Maranhão, foram expulsas na terça-feira (21/01), e agora sofrem o cerco de um grupo de milicianos que aterrorizam diariamente os trabalhadores.

A situação de tensão na zona rural de Senador La Roque se agravou após o despejo. As informações da Coordenação do MST na Região apontam que cerca de 30 homens encapuzados e fortemente armados saíram da sede da fazenda Beira Rio, reapropriada com o despejo, e avançaram em direção a outro acampamento onde estão as famílias despejadas.

O MST denuncia ainda que entre os milicianos há PMs, que permanecem fazendo ronda no local desde o despejo e que estão como guarda dos grileiros. O MST denuncia e exige que o comando da Polícia Militar no Maranhão tome providências, retirando os PMs e os pistoleiros que rodeiam o acampamento.

As famílias despejadas estão na área da comunidade Cipó Cortado, que faz parte da Gleba, mas que já foi arrecadada pelo Programa Terra Legal. É esta comunidade, junto com as famílias despejadas, que está sofrendo o cerco dos pistoleiros.

A ordem de despejo desta vez não seguiu um Termo de Ajustamento de Conduta, onde o comando da PM comunicava, com até cinco dias, todos os órgãos possíveis envolvidos na questão, incluindo o MST ou a Imprensa.
Dois defensores públicos, Fábio Carvalho e Fábio Machado, acompanharam a operação, evitando que o uso da força pela policia acontecesse. Porém as casas e a plantação dos trabalhadores foram destruídas.

Grilagem sobre grilagem

A área reintegrada na semana passada é a fazenda Beira Rio. O Grileiro Francisco Élson alterou o nome da propriedade para Fazenda Mutum, a fim de ludibriar a Justiça e conseguir a liminar.

Informações recolhidas pelo MST apontam que o fazendeiro apenas comandou o despejo e que a área já está vendida para Luciano Henrique de Melo, um pecuarista do Estado de Pernambuco. O valor da transação seria de R$ 3 milhões.

Gilvânia Ferreira, militante do MST, explica que na Justiça Federal o processo foi devolvido para a Justiça Estadual (Comum) por ficar entendido que se tratava de conflito entre posseiros. Gilvânia denuncia que na verdade se trata de grilagem na região e estas são feitas por grandes pecuaristas, alguns vindos até de outros estados.

Cipó Cortado, terra da União

A Cipó Cortado faz parte de um complexo de áreas, comprovadamente pertencentes à União, que passa dos 100 mil hectares. Toda a área foi praticamente grilada nas décadas de 70 e 80.

A área pertencente à Cipó Cortado está sobre processo de regularização para arrecadação pelo Programa Terra Legal há mais de 6 anos. Tanto fazendeiros como trabalhadores camponeses pedem a regularização da mesma.

A ocupação da área, que teve inicio em novembro de 2007, hoje conta com três acampamentos: dois do MST e um do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Senador La Roque, somando 226 famílias acampadas. Em novembro do ano passado, cerca de 2.700 hectares tiveram seu processo de regularização concluso.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Trabalhadores (as) Rurais ocupam sede do ITERMA em São Luis


Em: 28/01/2014
Por: Barack Fernandes
Mais de 60 trabalhadores (as) rurais ocupam neste momento a sede do Instituto de Terras do Maranhão (ITERMA). Eles (as) pedem agilidade no processo de titulação das comunidades Arame e Campo do Bandeira em Alto Alegre do Maranhão, localizado na Regional Sindical do Médio Mearim, além de segurança e agilidade na investigação dos crimes.

Há quase uma década a Federação dos Trabalhadores (as) na Agricultura do Estado do Maranhão (FETAEMA), vem acompanhando o violento conflito, que envolve grileiros de terra do Rio Grande do Norte que oprimem cerca de 75 famílias agricultoras familiares.

Em 2013 jagunços ligados a empresa Caxuxa Pastoril, antiga propriedade do ex prefeito de Codó, Biné Figueiredo, atualmente pertencente a um dos homens mais ricos do Rio Grande do Norte, conhecido como Edvaldo Fagundes, dispararam em setembro contra os lavradores(as) mais de 100 tiros de escopeta calibre 12, segundo assessoria jurídica da FETAEMA.

No mês de outubro do ano passado, jagunços incendiaram casas, roças e paiol das pessoas dos povoados. Já em novembro de 2013 cerca de 100 policiais da tropa de choque, despejaram todas as famílias por ordem do juiz Marco Aurélio da comarca da cidade de São Mateus.

Apesar de toda a violência e dos apelos feitos pela FETAEMA e Anistia Internacional se quer foi instaurado inquérito policial para apurar os casos de agressão e tentativas de homicídio.

Só dentro desta área existe atualmente mais de 5 lideranças ameaçadas de morte. O clima de perseguição e opressão por parte do grileiro chega ao absurdo de através de ligações ameaçar advogados(as) da Federação.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A saga do Riacho Santo Amaro





Indefeso e cercado por campos de eucaliptos, o que não basta mais agora as poucas águas do Riacho Santo Amaro serve para alimentar determinadas construções, ato esse que formaliza-se na imagem de caminhões-pipas tirando suas águas três vezes por dia, o que não se sabe é se esses responsáveis por essas atividades tem licença ou não. Vale a sociedade civil juntamente com os moradores do Povoado Baixa Grande averiguar a questão. Pois o problema da extração de água ilegal pode rolar até processo no ministério público segundo as leis. O riacho é composto por uma área repleta de buritizais e até juçaras, infelizmente esse afluente do Rio Mocambo vem enfrentando na resistência o impacto ambiental desde tempos bem remotos.
          O Riacho Santo Amaro remonta uma história romântica entrelaçada na memória dos primeiros moradores da região. Segundo informações do Sr. Zé Martins, líder de Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs), um dos primeiros habitante daquelas redondezas, o mesmo contou que naquela época tudo era diferente; as águas do riacho eram bem claras, as pessoas usufruíam dos seus produtos naturais e vegetais mas com extremo respeito, colhiam o fruto do buriti; pescavam, caçavam... vivendo portanto em verdadeira comunhão com a fauna e flora antes da chegada do eucalipto no final da década de 70. Zé Martins acrescenta que a comunidade trabalhava em mutirão: cobrindo casas, trocando diárias de serviços na roça e quando abatiam algum animal a exemplo de porco ou gado cada família tinha direito em uma pequena parte para o sustento de seus filhos. Pois isso estava muito longe daquilo que se chama ganância capitalista pelo poder e dinheiro. A primeira CEB a ser fundada no município de Urbano Santos foi na Associação de Moradores do Povoado Santo Amaro – Baixa Grande, em 1968, com o apoio dos padres Xavier e Zé Antonio, vultos históricos que revolucionaram a educação e o pensamento de liberdade em Urbano Santos num momento conturbado da política nacional – a Ditadura Militar. Mas infelizmente esse ar de segurança e paz com o meio ambiente e a ecologia dura pouco. No inicio de 1980 a “Empresa Florestal LTDA” chega no município de Urbano Santos e instala seu primeiro viveiro de teste justamente na área que pertencia a associação, a chamada Fazenda  Santo Amaro; começa por ali as primeiras discórdias e conflitos agrários entre os representantes da empresa e os moradores do povoado representados e orientados pelo movimento social com o apoio da igreja católica. A luta ficava cada vez mais tensa, foi quando representantes da empresa decidiram conversar com os líderes do movimento em defesa da reforma agrária e do meio ambiente. O certo é que chegaram em um determinado acordo, que a  associação ficasse com as terras do lado direito do riacho e a Florestal com as  do lado esquerdo, foi ai  então que eles abriram grandes campos para os primeiros experimentos de eucaliptos em nossa região, onde as espécies se deram muito bem. Construíram uma casa de fazenda próximo ao Rio Mocambo e plantaram diversas mudas de eucaliptos nas redondezas. Muitas ectares foram negociadas com a empresa nesse período do inicio de 80, principalmente por intermédio dos governos municipais.
          Com isso os trabalhadores rurais foram expulsos de suas terras, onde estas passaram a pertencer famílias influentes do município; isso se reflete até os dias de hoje no que se diz respeito à desapropriação e usucapião do Povoado Baixa Grande. O Riacho Santa Amaro vive na resistência tanto do afeto problemático do eucalipto quanto agora desses fantasmas caminhões-pipas que apareceram ninguém sabe de onde para roubar suas águas, assombrar seus peixes e maltratar a mãe natureza.
                                                 

Descrição: Envelhecido                                                  JOSÉ ANTONIO BASTO
                                                  Urbano Santos/ 12- 01 - 2014
                                                  militante dos direitos humanos

O Bacuri do Faz-ânsia



Alguns caminhos ficam para trás e sem ter e nem pra quê eles voltam a ser frequentados. O caminho do Brejão ficava atrás do que hoje é a propriedade do Vicente de Paula na Chapada do povoado Carrancas, município de Buriti, Baixo Parnaiba maranhense. A sua avô andava por esse caminho sempre que ia a casa de sua irmã.  Os vaqueiros usavam o Caminho do Brejão para levar o gado até o Tabuleiro, também município de Buriti. O Vicente conta isso com uma ponta de orgulho. Os proprietários de terra ou somente seus vaqueiros se juntavam em uma comitiva e saiam pela Chapada como num cortejo. A família dos Madalena, proprietária de terras nas Laranjeiras, carreou muito gado por veredas nas Chapadas de Buriti; o seu Antonio Madalena que hora e outra descarreira funcionários de empresas de soja e de eucalipto que indagam sobre os limites da sua terra que pega parte das Laranjeiras e parte das Carrancas. Uma vez, o seu Antonio Madalena palestrou tanto sobre o dia em que fora preso a mando dos sojicultores que o Vicente de Paula não via a hora de ir embora. Ele não para quieto em suas propriedades. O Vicente tê-lo encontrado foi um achado.

Hoje em dia, dificilmente, acertar-se-ia o Caminho do Brejão. Tampouco o Caminho da Gameleira e o Caminho do Vaqueiro. As fazendas de soja e de eucalipto substituíram os caminhos do gado pelos seus próprios caminhos, sem nomeá-los, é claro. O Caminho do Vaqueiro nunca existiria se dependesse da soja. A história do Caminho do Vaqueiro decorre da abundância de frutas na Chapada. Os vaqueiros escolhiam caminhos que se encostavam a áreas ricas em Bacuri e cortavam apenas o essencial para que um grupo de pessoas e de animais não se ferisse em alguma árvore. As Chapadas, em muitos casos, comportavam mata fechada e onde os bacurizeiros se sobressaiam em numero e em altura, essa mata se fechava mais ainda. Os vaqueiros percorriam essas Chapadas com olhos no chão para que nenhum bacuri escapasse. Um dos bacuris mais famosos dessa época era o faz ânsia. Deram esse nome a ele porque um vaqueiro comeu tanto bacuri que deu ânsia de vomitar e morreu em plena Chapada. 

Mayron Régis

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Comunidade quilombola de Jenipapo, município de Caxias, aponta irregularidades em escola construída pela prefeitura com recursos federais



A prefeitura de Caxias iniciou a construção de uma escola na comunidade quilombola de Jenipapo no ano de 2011 e deu por concluída a obra no mesmo ano. O Governo Federal, através do Ministério da Educação, liberou os recursos e também dá a obra por feita. Contudo, a prefeitura não inaugurou a escola até o começo de 2014. Foram gastos mais de 100 mil reais em todas as etapas. Só que a prefeitura se esqueceu de que para uma escola funcionar em todos os seus aspectos é preciso de água. O abastecimento de água ainda não foi resolvido pela prefeitura. O projeto técnico para a construção da escola deveria constar a perfuração de um poço. A comunidade de Jenipapo vai buscar a água para os seus afazeres domésticos bem longe do seu território em cima de burros e na terra de fazendeiros que nem sempre são muito receptivos. Os moradores não possuem recursos para escavar um poço que deve medir mais de 200 metros de profundidade a fim de garantir água de boa qualidade. A prefeitura de Caxias, centro-leste maranhense, só protela o inicio da perfuração do poço. Por conta dessa inércia e dessa omissão, a comunidade cogitou a hipótese de desmatar parte de sua reserva legal e vender a madeira para a Barro Forte, empresa de cerâmica. Esta empresa desmatou boa parte do território quilombola no qual Jenipapo se localiza, mais concretamente as áreas das comunidades de Gameleira e Feitoria. O Iterma regularizou 580 hectares para os quilombolas de Jenipapo e transformou a área em assentamento do estado. Cerca de 120 hectares foram registrados como reserva legal. Acaso a comunidade anuísse no desmatamento incorreria em crime ambiental e a Barro Forte também. A empresa compra carrada de madeira por R$50,00. Precisaria desmatar muita floresta para juntar o recurso necessário com vistas a construção do poço. A reserva legal de Jenipapo é rica em várias espécies florestais. A comunidade fez as contas de quanto obteriam com a venda da madeira e quanto ela vale ou valeria por prestar serviços socioambientais para os moradores. Cada espécie florestal presta um serviço imprescindível nas áreas de segurança alimentar, de saúde e de microclima.  Esses serviços socioambientais ocorrem todos os dias. Como se sabe, a floresta não descansa. A sombra projetada pela copa das árvores é um serviço de absoluta relevância e pouca gente se atenta para isso. Esses serviços socioambientais poderiam contribuir não só do ponto de vista físico como também do ponto de vista financeiro com a produção de polpa de frutas e a fabricação de remédios caseiros para a comercialização. A comunidade de Jenipapo raciocinou em cima dessa proposta e decidiu não desmatar, decidiu intensificar as cobranças feitas a prefeitura e decidiu cobrar da mesma forma os governos estadual e federal com relação a perfuração do poço e a inauguração da escola.  

Mayron Régis