terça-feira, 25 de março de 2014

A experiência de trilhar uma vereda na chapada do Riacho Seco




          Certa vez em um dia de sábado, acordei cedo lembrando de quando era criança morando no Povoado Pequi. As lembranças fizeram-me recordar das caçadas de passarinhos com baladeiras e da procura de bacuris nas redondezas da chapada do humilde Povoado Riacho Seco, uma comunidade próxima do Pequi, todos povoados de Urbano Santos, mas aquelas caçadas todo mundo sabe que é tradicional para qualquer menino camponês e não tem nada haver com as caçadas predatórias de hoje em dia. Foi com esse sentido então que bateu uma velha saudade de visitar aquela chapada que há muito tempo eu não a olhava.
          Pedi minha mãe para colocar um frito em minha bolsa e dirigi-me até a chapada do Riacho Seco, seguindo pela estrada do Povoado Prata e Cocalinho do Sr. Louro, quando cheguei ao local percebi que estava tudo diferente, pois mais de vinte anos se passaram, quase nem sabia mais as veredas que dava acesso as roças de janeiro e San Nunga do Tio João. Deixei a moto escondida dentro do mato e trilhei a vereda saindo da chapada em direção à mata de coco babaçu para encontrar o riacho chamado de “grota da bicuíba.” Cansei de caminhar, pois a distancia é bastante longe, parei para merendar debaixo de um pé de murici e por um momento senti a calmaria da natureza somente com o canto dos pássaros. Após a merenda, prossegui abrindo o mato da vereda  fechada. Quando desci a ladeira da grota, um juriti tomou arranco fazendo um barulho esquisito, até me espantei. Segui contra as águas da grota pulando de pedra em pedra, olhei muitas coisas diferente principalmente a flora, muitos pés de najá e tucum, frutinhas do mato como maria preta e mão melada, além de murtas. Passei muitas horas andando pela selva, tudo mudou daquela época para cá quando eu era criança e por ali passeava com baladeiras e cabaças. Quando deu as horas depois do meio dia, levantou-se um temporal de chuva, a mata fechada começou a escurecer, trovoadas e relâmpagos atormentavam meu pensamento, pois estava sozinho e Deus. Mas não choveu nada, apenas alguns pingos, o vento levou tudo. Mas voltei pela mesma vereda em direção a chapada novamente, quando cheguei nos primeiros capinzais e pés de candeias, o tempo clareou, aproveitei então  para colher algumas pitombas de leite e murici vermelhos da chapada. Vi uma coisa diferente também na chapada, por exemplo, quando os trabalhadores rurais há vinte anos atrás faziam roças ali naqueles locais, quase sempre a chapada estava em chamas, podemos dizer que as vezes os próprios trabalhadores devem tomar consciência de preservar seus locais. Mas a versão é que era dos trabalhadores, onde na verdade não era eles quem botavam fogo na chapada, quem praticava esse crime eram caçadores vindos de Urbano Santos, Mata Roma e até Chapadinha, atraídos pela fartura de animais silvestres como tatus, pebas, mambiras, veados, caititus, jacus, nambus e muitos outros. Deixa que esse problema agravou-se porque estes caçadores ilegais não matavam apenas as caças, mas também os animais dos camponeses que por ali pastavam como bodes e porcos. Percebi muito pasto e não vi nenhum mais desses animais, o que aconteceu? O êxodo rural foi o responsável por tudo isso. Os moradores de Riacho Seco e Pequi, quase todos foram morar na sede de Urbano Santos, deixando então seu lugar esquecido. Não se ver mais roças naquela localidade, apenas alguns jumentos e cavalos, nem gado que era comum, se ver mais.
          Mas algo de interessante ficou nessa história: a natureza preservada, até então. Pois os gaúchos ainda não souberam das maravilhas daquela chapada do Riacho Seco. As terras são de proprietários que ainda não venderam. Espera-se que não vendam nunca, nem para gaúchos, muito menos para a Suzano Papel e Celulose. Conclui portanto “a experiência de trilhar uma vereda na chapada do povoado Riacho Seco”- voltei pela a antiga sede do povoado onde quase não mora mais ninguém, lá resta apenas a casa do Senhor Mundinho. Parei por lá para beber um pouco de água e conversar com aquele velhinho sábio. Voltei para casa, chegando mais ou menos as quatro horas da tarde, com a consciência de dever cumprido.

(JOSÉ ANTONIO BASTOS)

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