terça-feira, 12 de agosto de 2014

ANTES DE TUDO, UM POUCO: COMUNIDADE QUILOMBOLA DE BARRO VERMELHO



Antes de tudo, um pouco. Quem escreve, assinala o espaço em que vive. Pediram-lhe uma descrição.  Lembrava-se da casa do proprietário, que se destacava na Caatinga. O nome da familia Leite se insinuava por aquelas paragens envelhecidas, pelo menos na aparência. Wilson Leite, proprietário de Barro Vermelho, comunidade quilombola do município de Chapadinha, assumiu o seu passado escravagista perante o antropólogo que elaborava o estudo antropológico da comunidade. Zé Orlando ou Pelé qualificou o relatório antropológico de Barro Vermelho como o melhor de todos os relatórios antropológicos produzidos na região do Baixo Parnaiba. Faltava sua publicação pelo Incra do Maranhão. Anda-se mais de um quilometro da pista até Barro Vermelho. Só outro dia que instalaram a luz elétrica na comunidade. O proprietário impedia o acesso da empresa concessionária ao território quilombola. A justiça federal desimpediu. Com isso, as famílias quilombolas puderam comprar geladeira e televisão. O Zé Orlando recém casara e a Ana Reis, coordenadora do projeto Ijé-Ofé, levava uma sacola de roupas para presentear ele, a esposa e os filhos. Eles devolveram o presente na forma de um almoço com galinha caipira ao leite de coco babaçu. A comunidade do Barro Vermelho não cria gado. Os moradores legitimam a criação de galinha caipira, capote, porco e bode.    À beira do rio Munim, Zé Orlando explicou o território tradicional de Barro Vermelho. A área medida é de mais de 500 hectares, mas a comunidade assim que obtiver a titulação vai incorporar mais três mil hectares de uma área próxima, chamada Altos. Os moradores de Barro Vermelho saíram dos Altos porque é lugar de difícil morada. Eles mantem atividades de extrativismo nos Altos como a coleta de bacuris em uma área de três hectares. O território tradicional de uma comunidade quilombola é o lugar onde moram, mas também compõe esse território os lugares onde moraram, onde colhem suas frutas, onde enterram seus mortos. A comunidade de Pequizeiro se reflete na comunidade do Barro Vermelho só que o processo de autoidentificação começou outro dia. A mãe de Zé Orlando que mora no Pequizeiro reclamou de seus parentes de sangue que não se veem como quilombolas. No mês agosto, os moradores de Barro Vermelho se concentram na farinhada e para isso se deslocam três quilômetros rumo ao Pequizeiro. Por sinal, a casa de farinha se localiza na propriedade dos pais do Zé Orlando.  
Mayron régis

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