quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

BARBÁRIE EMPREENDEDORA: WPR DERRUBA CASAS E PROMOVE DESPEJOS NO CAJUEIRO SEM ORDEM JUDICIAL




Nas vésperas do Natal, no período final do atual governo do Maranhão, a empresa WPR volta a agir com violência e ilegalidade na Comunidade do Cajueiro. Desta vez, demolindo casas sem qualquer ordem judicial que desse respaldo à ação. A empresa, ainda sem sede no Maranhão, se apresenta como a empreendedora de um terminal portuário privado, na área industrial de São Luís. No entanto, a fachada da WPR abriga os interesses de poderosas trans e multinacionais, como a Suzano Papel e Celulose, agindo com milícias armadas e sob o respaldo do governo do Estado.
Na última quinta-feira, dia 18 de dezembro, a empresa se apresentou com uma ordem judicial – que apenas proibia futuras construções na área – e saiu demolindo construções preexistentes. “Derrubaram a minha casa todinha e eu estou aqui há não sei há quantos anos, mais de 20 anos, que eu construí essa casa. Eu tenho aqui as contas de luz da minha casa, de anos... Eu trouxe tudo para essa reunião, está tudo aqui, olha!” – afirma, chorando, moradora da área do Parnauaçu, no Cajueiro.
O caso pode ser sintetizado pela fala de um dos moradores: “Simplesmente eles vem, compram de outras pessoas, que surgiram agora dizendo que são donos, e eles vem de fora, tomar posse... e por cima de nós, que estamos aqui, trabalhando, plantando, morando há muitos anos... Como é que eu tenho um documento [título condominial, registrado no Cartório de Registro de Imóveis], desde 1998, e a empresa vem e passa o trator dentro da minha casa?”
Além de não ter ordem judicial e de não proceder conforme os ritos exigidos legalmente para qualquer ação legal de reintegração de posse, a empresa contava com seus tradicionais jagunços e com a escolta de um carro do Batalhão de Choque da Polícia Militar. Agiu de surpresa e ilegalmente. Conforme o relato de um dos moradores, foram 16 casas demolidas em poucas horas, em uma manhã, agora no final de dezembro, destruindo as residências na frente das mulheres e crianças que estavam nas casas.
Um dos casos mais emblemáticos foi o da família do Sr. Joca, conforme relato de um vizinho, solidário: “Rapaz, é revoltante... A pessoa, nessa idade, trabalhando, guardando dinheiro... Tá lá, a família dele, as crianças, a filha dele... uma delas desmaiou, não dá pra acreditar. As crianças assistindo... Imagina o trauma das crianças... Eles são covardes porque, veja bem, 9, 10 horas, não tem nenhum pai de família dentro de casa, está todo mundo trabalhando. Então, eles pegam esse horário, que está desguarnecido, só tem as mulheres e as crianças, e aí eles destroem... Tanto tempo guardando pra sair de uma casa de barro, taipa, que já está toda pra cair, para ir para uma de tijolo... Sinceramente, se eu tô em casa, eu saía de lá morto ou preso... Porque gente, é uma casa. Casa tem um valor muito maior que qualquer coisa, é onde guarda sua família, sua esposa, seus filhos... É o sonho de todo o ser humano. Era um Natal que ia ser o melhor Natal, porque eles estavam na casa deles...”
Um dos líderes da comunidade expressa a resistência e reflete a descrença no Estado, que ampara uma ação de aniquilamento de direitos humanos e reflete a situação de (des)governo do Maranhão, após a renúncia da Governadora Roseana Sarney:  “A gente tem que saber o que está acontecendo, porque nós vamos tirar por lei ou por marra esse pessoal aqui de dentro... porque não dá mais para a gente viver do jeito que está”. Outro morador complementa: “A gente não pode deixar que essa empresa chegue desse jeito, de qualquer jeito, derrubando as casas de moradores que estão aqui há mais de 80 anos, sem ter, sequer, documento para isso”, diz um dos moradores do Cajueiro. E complementa: “Isso é nosso e a gente não pode entregar. Nenhum de nós tem a nossa propriedade para ser vendida. O dono da terra é aquele que cuida, é aquele que planta, que cultiva”.
Além das dezenas de famílias do Cajueiro, vivenciam esse assombro as 14 mil e 500 famílias que compõe todo o território étnico do mesmo local, as quais foram reconhecidas, em 2007, como tradicionais e extrativistas pela União (por intermédio do ICMBio). Todas elas aguardam o decreto de criação da Reserva Extrativista (RESEX) de Tauá-Mirim e serão gravemente abaladas pelos impactos socioambientais do projeto do terminal portuário. O Maranhão não pode virar as costas para esse conflito, para os abusos de poder político e financeiro e para a barbárie cometida contra centenas de famílias. Essas famílias prestam importantes serviços sociais para a cidade de São Luís, como no abastecimento de alimentos (agricultura e pesca), possuem uma grande importância cultural e histórica para a cidade, além de serem protetoras de uma área de imensa relevância ambiental, distante há apenas 4km em linha reta do Centro Histórico. Não podemos assistir, omissos, a tamanha violência. Nos preparemos, como cidadãos, para atuar nos próximos capítulos em defesa dessas famílias e da nossa cidade. Amanhã, às 6h, na entrada do Cajueiro, serão feitas importantes denúncias sobre esse processo ilegal.
Viviane Vazzi

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