segunda-feira, 27 de julho de 2015

A marginalização dos extrativistas do bacuri no Baixo Parnaíba Maranhense, artigo de Mayron Régis


Eles teimaram muito, baseando-se, apenas, em um nome: Juvenal. As coordenadas para chegar a sua terra, próxima ao riacho Feio, seriam dadas por um delegado sindical que, numa reunião do Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba com os secretários do governo do estado do Maranhão e suas assessorias, espicaçou a curiosidade de um e de outro a respeito da propriedade do seu Juvenal. Ela primava por ser uma das poucas propriedades da Chapada do riacho Feio – bacia do rio Munim – município de Chapadinha – cujo proprietário guarnecera a sua Chapada com significativos espécimes de bacurizeiros. Outra ficava do lado do município de Buriti de Inácia Vaz.
As comunidades agroextrativistas do município de Chapadinha, dentre elas as do riacho Feio, foram convidadas para o Seminário “Bacuri: Do alto das Chapadas ao comércio nas cidades”, realizado no final de agosto pelo Fórum Carajás e pela Secretaria de Agricultura do Maranhão, como agentes principais da cadeia de produção do Bacuri, pois quem da sede do município se mandaria para as Chapadas para coletar o fruto, quebrar a casca, tesourar a polpa e vender para os atravessadores? Poucos agroextrativistas compareceram ao seminário e esse fato enfeia as combalidas políticas estatais e de setores representativos da agricultura familiar para o segmento agroextrativista, pois se ofertou muito o que sabiam os pesquisadores. Os coletores de bacuri das associações da Chapada Limpa I e II, pertencentes à reserva extrativista da Chapada Limpa, detiveram-se nas cadeiras do auditório do Banco do Nordeste para saírem vez ou outra.
A reserva extrativista da Chapada Limpa – uma reserva de mais de onze mil hectares – a maior parte Chapada – para cada lado que se vire -multidões de bacurizeiros – racionou as posses de terras. Estas posses davam indícios às comunidades agroextrativistas de Chapada Limpa I e II, Jussaral, Prata e mais sete comunidades que qualquer aventureiro poderia se autodenominar dono de parte da Chapada.
As áreas de Chapada refugiariam uma aflição que faria uma pessoa desaparecer por dias. Confirmar ou negar a razão de quem quer que seja nessas variáveis formações de bacurizeiros requer um afastamento crítico de quilômetros para que se possa associar ou desassociar o percurso histórico das comunidades para a coleta de bacuri nos meses de janeiro, fevereiro e março de faz anos ao sentimento de coletividade atravessado por interesses pessoais.
Cercar os hectares de posse era para bem poucos; as comunidades receitavam a espera da queda dos bacuris, pois derrubá-los ainda verdes dos galhos os fazia perder 30% da polpa. A tendência com os desmatamentos de bacurizais é que as pessoas se comportem de maneira a não esperar a queda. No receituário das relações sócio-econômicas do Baixo Parnaíba maranhense, uma coisa acerta na outra: a sociedade marginaliza os extrativistas que vivem da coleta do bacuri.
A não-presença de várias comunidades agroextrativistas no seminário do final de agosto se explica em parte por esse processo de marginalização histórica do extrativismo. A admissão de projetos de monocultivos de soja e eucalipto e os licenciamentos de carvoarias acentuam mais esse processo.
Confiança de que os bacurizeiros do senhor Juvenal seriam esplêndidos – ocupar-se da Chapada do riacho Feio – bacia do rio Munim – como no dia anterior se ocuparam da Chapada dos Caboclos. No mapa do Maranhão, parecia mais perto do município de Chapadinha – a Chapada do Riacho Feio – os plantios de soja lascam com mais veemência o Cerrado. Propriamente dita, a viagem trocou os pés pelas mãos, pois os viajantes escolheram o caminho mais precário. O nome do povoado era Gameleira e a cada quilômetro rodado se debilitava a percepção do prosseguir com segurança. Só contavam consigo próprios. A pergunta do porquê de estarem ali os acometia como deve ter acometido às inúmeras pessoas pelas quais passaram. Aquela Chapada botava abaixo qualquer pretensão de ganhar dinheiro com sua venda. O senhor Juvenal recusou várias propostas de compra por parte dos plantadores de soja.
Eles erraram pela Chapada. Voltar atrás – impossível. Restava atravessar a porteira da propriedade. Providencialmente, ela fora cercada. Lá dentro, as expectativas com relação aos bacurizeiros – haviam poucos – foram substituídas por saber quem realmente morava naquele rancho. O senhor Juvenal ganhara o mundo para Chapadinha. A mulher dele e os filhos responderam as perguntas sobre os bacurizeiros e sobre a resistência em vender aquela terra. Ficou a impressão que a família do senhor Juvenal guarda a Gameleira como alguém guarda os seus pertences de toda uma vida e como um pequizeiro guarda uma das porteiras – sem sair do lugar.
Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás
Esse texto faz parte do programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba, apoiado pela ICCO e realizado de forma conjunta com a SMDH, CCN e Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba.
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[EcoDebate, 25/11/2008]

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