segunda-feira, 21 de março de 2016

A caçada, a chapada e a grota da bicuíba




Descíamos a grota da bicuíba (riacho) que corta as comunidades de Riacho Seco, Guarimã e Pequi, no município de Urbano Santos, Baixo Parnaíba. A ideia de voltar àquelas velhas trilhas que há muito tempo não os visitara, foi na verdade um convite de caçada do compadre Nego Veio e Tio Donato - os dois são trabalhadores rurais da comunidade Pequi e antigos conhecidos dos meus pais e avós, eles caçam de vez em quando para o sustento de suas famílias, mas também não abusam do que a chapada lhes oferecem como a casa os frutos naturais. Os cachorros enveredavam-se com seus grunhidos meio que esquisitos... eu por não ter experiência de caça, apenas o acompanhavam para poder descrever a aventura. Vida de caçador não é tão fácil como se pensa; sabe-se que a caça predatória é proibida, disso todos sabem, mas as atividades de subsistência em seus manejos tradicionais, as práticas seculares passadas de pai para filhos não são proibidas, no entanto que seja de forma equilibrada. Os caminhos eram estreitos e a água da chuva respondia violentamente nas barreiras dos grotiões batendo nas ladeiras e descidas de pedras. Os trovões naquela tarde eram como tiros de canhões e os relâmpagos assombravam para o lado leste. Não demorou muito, os cachorros “trabalharam acuados”, ou seja os cães cercaram um bicho, uma caça: era uma cotia que adentrara num buraco. Os latidos eram fortes e ecoavam sobre as barreiras da grota, os caçadores conseguiram a cotia que virava almoço com leite de côco babaçú no dia seguinte. Já era tardinha, quando o Tio Donato perguntou se podíamos passar pela chapada para pegar alguns pequis e bacuris. Fomos então, pois a chapada estava estralada de pequi no chão, bacuri bem pouco, mas restava alguns poucos frutos debaixo dos pés. Ajuntamos o que podemos e colocamos no côfos - avistava-se dali, na parte mais inclinada da chapada os últimos raios de sol ao morrer da tarde; tiros de espingarda zuniam, era caçadores em suas esperas para os lados da Comunidade São José. Descemos para casa e quando chegamos já era noite. As experiências de voltar aqueles lugares foi mais uma forma de descrever a cultura camponesa, que em sua grande parte está ameaçada por grileiros, latifundiários e empresas que invadiram a Região do Baixo Parnaíba Maranhense. Muitas são as comunidades que precisam de proteção em seus territórios de caça, pesca e extrativismo; essas comunidades vivem dos recursos naturais que a terra e as águas lhes dão, mas esses recursos estão pouco a pouco desaparecendo. Os camponeses sabem sobreviver do seu modo, não agredindo a natureza em harmonia com o meio ambiente. A caçada pelas chapadas e grotas da bicuíba foi mais uma escola de vida e aprendizado, um capítulo particular da história desses povos junto à cultura tradicional daquela importante gente trabalhadora e humilde de coração.
                                                                          
José Antonio Basto
(98) 98607-6807

Desmatamento em Buriti

A fazenda São Bernardo, propriedade de Joao Gabriel Introvini e Andre Introvini, desmata mais de 100 hectares de Chapada rica em bacuri, pequi, coco babaçu e tucum no povoado Carrancas, municipio de buriti.

No Maranhão, fazendeiro ataca quilombolas com conivência do Incra

CSP Conlutas envia caranava ao município de Palmeirândia (MA) e constata que o ajuda fazendeiro assassino a construir uma "Faixa de Gaza" contra quilombolas

Caravana da Central Sindical e Popular Conlutas
O dia era 11 de março,uma sexta-feira. Chovia muito em São Luís do Maranhão. Por volta das quatro da matina, já estávamos numa van que nos levaria às comunidades quilombolas do município de Palmeirândia na baixada Ocidental Maranhense. Nossa caravana de solidariedade aos quilombolas era formada por militantes do PSTU, da Comissão Pastoral da Terra (CPT-MA), do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe e do Movimento Hip Hop do Maranhão “Quilombo Urbano”.  Uma equipe da Rede Brasil nos acompanhava. Passamos 110 minutos no Ferry Boat e uma hora e meia na estrada esburacada que leva ao município de Palmeirândia. Sabíamos que a situação por lá era tensa, mas a olho nú constatamos que era bem pior do que imaginávamos! Percebemos que os quilombolas de Palmeirândia estão sitiados numa espécie de “Faixa de Gaza” construída pelo poderoso fazendeiro da região, Gentil Gomes, com o apoio da polícia de São Bento, do vereador Paulo Miguel (PDT) e a conivência criminosa do INCRA-MA. 
 
Moradores da região nos informaram que, no dia 17 de fevereiro, após o enterro de um jagunço que tombou ao tentar matar dois quilombolas, cerca de 60 pessoas foram conduzidas em um ônibus escolar até a casa da quilombola Ziane, uma das lideranças do Moquimbom. O bando era comandado pelo vereador Paulo Miguel (PDT).  Desse total, cerca de 20 pessoas, armadas de facões, machados, enxadas, paus e, provavelmente, armas de fogo, destruíram a casa de Ziane com tudo que havia dentro. Pelas fotos abaixo dá pra perceber que a intenção do bando era minar com toda a estrutura lateral da casa para que a mesma desabasse sobre o casal e seus quatros filhos, o que só não ocorreu por que os pilares de sustentação interna suportaram ao ataque. 
 
Casa da família de Ziane que por muito pouco não desabou como todos dentro 
 
“Como a casa não caiu, eles queriam matar meu marido na frente dos meus filhos. Alguns vizinhos foi que não deixaram. Então eles quebraram toda a casa exigindo que meu marido olhasse”, relata Ziane em meio a uma cascata de lágrimas.  A filha mais velha de Ziane tem onze anos e o mais novo apenas quatro. Com os olhinhos desolados, olhavam pela primeira vez, desde o acontecido, os destroços da casa, dos móveis e dos brinquedos, todos amontoados. 
 
Quilombola Ziane, seu companheiro e os quatros filhos. João, o mais novo, no braço do pai, tem apenas 04 anos de idade
 
Imagens da residência completamente destruída por dentro, assim como ficou por fora
 
Da casa Ziane fomos às plantações da parte direita do território Cruzeiro que é dividido ao meio por uma estrada. Tudo completamente destruído! Roça de milho, batatas, quiabos, maxixe, melancia, etc. Não sobrou quase nada, nem mesmo a cerca ficou de pé. O que era roça virou pasto para o gado da região. Até as casinhas de palha de beira de estrada que são utilizadas para vendas dos legumes e frutos foram reduzidas às cinzas. “Era daqui que vinha nosso sustento, agora não temos nada para vender”, afirma a quilombola Tereza que por muito pouco não teve também sua casa destruída naquele inesquecível 17 de fevereiro de 2016. Escapou porque havia saído momentos antes do ataque. “Eles queriam também destruir minha casa comigo e meus filhos e netos dentro”, desabafa Tereza em tom de indignação. 
 
Com as plantações destruídas e a cerca ao chão, é o gado que  povoa o território 
 
De lá seguimos para o outro lado do território de Cruzeiro. Além de mandar invadir o território, destruir as roças e os instrumentos de trabalho dos quilombolas, o fazendeiro Gentil Gomes mandou lacrar com cadeados a porteira que dá acesso ao território, tudo isso sem qualquer mandado judicial. Resolvemos passar entre os arames e, no momento em que gravávamos um vídeo em solidariedade a comunidade, ouvimos um tiro de cartucheira. Na seqüência, um jagunço passou numa moto ameaçando os quilombolas e os membros da Caravana que ficaram do lado de fora. Pouco depois, o irmão do vereador Paulo Miguel passou em um carro em baixa velocidade olhando para dentro do território.
 
 
 
 
Devido a essas ameaças, muitos quilombolas saíram da região, como é o caso de Santinho, liderança do Moquibom que foi preso por policiais do município de São Bento, os mesmos que se negaram a socorrer Ziane e seus familiares. Por muito pouco, Santinho não foi linchado pelo bando que destruiu roças, casas e mataram centenas de animais.  Mesmo entre os quilombolas que não tiveram suas roças destruídas, a tristeza é indisfarçável. “Não adianta ter minha roça, se meus companheiros não têm a deles. Aqui a gente é um ajudando o outro”, relata um quilombola aparentando 60 anos de idade ao mostrar para nós os belos pés de milhos de sua roça.
 
Várias crianças quilombolas também estão impedidas de ir à escola, onde impera o racismo e muitos quilombolas vivem o dia todo sobressaltados. O vereador Paulo Miguel (PDT) chegou a fazer um discurso na Rádio Pericumã afirmando que por ele não iria sobrar um quilombola na região. O delegado do município São Bento deu entrevista utilizando argumentos não menos agressivos. Para não sofrerem perseguições, muitos quilombolas estão renegando sua identidade quilombola. 
 
O lado do INCRA é do latifúndio e do agronegócio!
O papel que o INCRA-MA tem cumprido nesse conflito não é só de omissão, é de total conivência com os fazendeiros da região. Para facilitar os ataques aos quilombolas, o INCRA contratou uma antropóloga negra para fazer o “jogo sujo” de violar arbitrariamente o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) preparado anteriormente por outra antropóloga, além de desconsiderar o Relatório Sócio-histórico antropológico que foi aprovado consensualmente pelos próprios Técnicos do INCRA e pela comunidade. 
 
Ao aprovar e publicar no Diário Oficial um RTID elaborado a partir de um questionário aplicado em apenas 04 dias e que destina metade do território de Cruzeiro para familiares e funcionários de Gentil Gomes, a quem o mesmo arrenda ilegalmente as terras dos quilombolas, o INCRA atesta publicamente sua posição política favorável ao fazendeiro e contrária aos quilombolas. 
 
O RTID conclusivo não tem nada de metodologia antropológica. A decisão tem motivação exclusivamente política. Todas as reuniões realizadas pela equipe do INCRA na comunidade foram com funcionários do fazendeiro ou com membros da comunidade que por pressão ou orientação do INCRA não se declararam remanescentes de quilombolas. Isso contraria os Artigos 2º e 3º do Decreto 4.887/2003 que torna imprescindível a participação da comunidade como sujeitos políticos do processo e não como objetos de questionários. Ao validar esse RTID, o INCRA favorece com metade do território os grupos ligados ao fazendeiro, a filha do fazendeiro (Noele de Jesus Barros Gomes) e o posseiro Gregório Farias, pai do vereador Paulo Miguel (PDT).  Para considerar os “ocupantes” dos territórios quilombolas como povos tradicionais, o Relatório transforma a submissão destes ao fazendeiro em elementos de resistência de povos tradicionais. Outro elemento de “resistência” seria a defesa de que Cruzeiro se transforme em município. Citamos um trecho das considerações finais do RTID conclusivo em sua pagina 165 que afirma que:

“Enquanto o grupo auto-definido acionou a política de regularização fundiária de territórios quilombolas (...) o outro utilizou-se de outras ferramentas de resistência que incluiria a aproximação com os titulares das terras no território, a compra de algumas áreas e articulação para a emancipação territorial a categoria de município”
 
Se a primeira versão do Relatório favorável aos quilombolas impedia a transformação do distrito de Cruzeiro em município, na versão violada pelo INCRA, a defesa da emancipação do município de Cruzeiro por parte dos moradores ligados a Gentil Gomes é reconhecida como “ferramentas de resistências”. O que era para ser um Laudo complementar ao RTID que reconhecia todo o território como quilombola, se transformou em seu oposto. Foi essa decisão ilegal que aumentou o clima de tensão na região, incitação pública à violência racista, incineração de casa, destruição de roças, agressões físicas, prisões ilegais de lideranças e tentativas de linchamento. Por cima, inverte o foco do conflito que deixa de ter como foco a disputa entre os fazendeiros e a comunidade, passando a ser entre a própria comunidade, já que é entre a parte favorecida pelo INCRA que o fazendeiro recruta seus jagunços e capangas. 
 
Nunca é demais lembrar que Gentil Gomes foi quem mandou matar o líder quilombola Flaviano Pinto Neto em outubro de 2010. Em 2011, devido à pressão dos Movimentos Sociais e pela quebra do seu sigilo telefônico, a juíza da Comarca do município São João Batista mandou prender o fazendeiro que, infelizmente, foi solto. Em 2015, o TJ-MA em atitude descabida absorveu Gentil Gomes da condição de réu, atribuindo ao próprio Flaviano a responsabilidade pela sua morte. O bando que matou Flaviano já havia tocado fogo na sede da associação que a vitima presidia, já havia assassinado 16 pessoas na região e era liderado pelo pistoleiro Josué Sodré Sabóia que teria participado da Operação Tigre, considerado o maior grupo de extermínio institucional do país que foi criado em 1989 quando João Alberto (PMDB), hoje presidente da Comissão de Ética do governo Dilma, era governador do Maranhão. 
 
A quem interessa criminalizar o moquibom e a luta quilombola? 
“O INCRA se transformou numa superintendência do latifúndio!”. Temos pleno acordo com essa frase dita pela quilombola Tereza. O INCRA tem atuado conscientemente na tentativa de enfraquecer o Moquibom e todos os grupos do campo que rompem com Dilma e o PT e não se limitam mais a meros diálogos institucionais. O INCRA é o braço institucional do governo Dilma e a antropóloga é apenas uma peça negra nesse tabuleiro. O governo Dilma é a principal responsável por essa situação porque fez opção pelo agronegócio a quem destina quase que 90% do orçamento da política agrária, enquanto cortou 80% da verba destina à regularização fundiária. 
 
Para se expandir pelo campo, o agronegócio precisa passar por cima das comunidades quilombolas, dos povos indígenas e de todos os trabalhadores do campo. No dia 04/03, Bolsonaro afirmou que as licenças às terras indígenas são um obstáculo para a produção de comidites para o Brasil. Kátia Abreu, ministra de Dilma, também não pensa diferente.  Está claro que política do governo Dilma, junto com os fazendeiros e os empresários do agronegócio, é dividir os trabalhadores do campo para melhor explorá-los e massacrá-los. Ao expulsá-los das terras libera ainda força de trabalho baratíssima tanto para os antigos fazendeiros como para os novos empresários do agronegócio.  É por tudo isso que as lideranças do Moquibom estão sendo perseguidas tanto por grupoeconômicos como por parte do Estado (INCRA, polícia e vereadores). Em 2010, ano do assassinato de Flaviano, a CPT registrou o envolvimento de 70 mil famílias em conflitos por terra, número superior a todo o período de 1991-1995.     
 
Reiteramos aqui nossa exigência às entidades do Movimento Negro, sobretudo aquelas que no último dia 08 de março lançaram o manifesto em defesa do governo Dilma com o titulo“NEGRAS E NEGROS CONTRA O RETROCESSO”, que sejam de fato solidários com o povo negro que está sendo massacrado por esse governo e pelos grandes grupos econômicos do país. Não será possível apresentar uma alternativa pela esquerda para os quilombolas, indígenas e para o conjunto do povo negro e da classe trabalhadora se não for rompendo com Dilma, com todos os partidos da ordem (PT, PC do B PSDB, PMDB, DEM, etc.) e com o capitalismo. Da mesma forma, não podemos aceitar que o governador Flávio Dino do PC do B continue assistindo essa dramática situação sem tomar as providências cabíveis já que o conflito ocorre em território do estado do Maranhão.  
 
 
Exigimos: 
1- Anulação do Parecer Conclusivo do RTID violado;
2- Imediato reconhecimento e titulação dos 717 hectares do território da comunidade quilombola de Cruzeiro
3- Inclusão de todas as vitimas e testemunhas das comunidades em programa de proteção do governo federal.
4- Garantia de pelo menos um salário mínimo por parte do governo Federal e Estadual para todas as famílias que tiveram suas roças queimadas e estão sem ter de onde tirar seus sustentos. 
5- Cassação e prisão do vereador Paulo Miguel por associação criminosa, incitação a violência, entre os outros crimes.
6- Prisão de Gentil Gomes pelo assassinato de Flaviano Pinto Neto e por todos os crimes que tem cometido na região. 
7- Prisão de todos os envolvidos nas agressões físicas e psicológicas praticadas contra os quilombolas. 
8- Titulação de todos os territórios quilombolas e indígenas do Maranhão e de todo o país,
9- Reforma agrária e expropriação do latifúndio sobre os controle dos trabalhadores e trabalhadoras.

quinta-feira, 17 de março de 2016

A história de um camponês ribeirinho




Certo tempo havia um camponês que morava às margens de um rio, todos os dias ele levantava cedinho, direcionava-se até o rio para tomar banho; mergulhava, nadava e sorria com a natureza, depois seguia para seu trabalho em sua roça. Quando voltava a tardinha, fazia melhor: pegava sua rede de pesca e jogava no rio... tornando a tomar banho, depois voltava para casa todo feliz. Ao amanhecer tornava a fazer a mesma coisa... fazia melhor, trazia frutos da natureza e peixes do rio para sua alimentação e de sua família. Certo tempo este rio quase secou e a tristeza tomou conta dele... pois nunca mais viu o rio cheio e acabou os frutos.

Este camponês é todos os trabalhadores rurais de nosso Baixo Parnaíba que estão quase sem água para pescar, banhar e brincar.

Por: Izaias Rodrigues
Secretário Agrário do STTR de Urbano Santos-MA

quinta-feira, 10 de março de 2016

Arroz - Livro lançado pela Conab destaca a importância do arroz para a economia do Maranhão


Data: 3/3/2016


SÃO LUÍS - Embora hoje o estado tenha caído da terceira para a quinta posição na produção nacional de arroz, o grão ainda é um produto de grande valor econômico e social devido seu relevante papel na dieta maranhense e participação no PIB estadual. É o que revela o livro A Cultura do Arroz, lançado ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), durante Sessão Solene da Câmara dos Deputados.
Organizada em quatro partes, a publicação traz inicialmente aspectos nutricionais e alimentícios do cereal, com histórico, formas de consumo e o processo de pós-colheita, passando por formas de industrialização e padrões de comercialização. Numa etapa seguinte, destaca a produção realizada nos diversos estados, abordando os sistemas típicos de plantio, a potencialidade das áreas, produtividade e principais cultivares, pragas e doenças, entre outros.

De acordo com a publicação, apenas cinco estados - Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso - respondem por cerca de 85% do arroz produzido no Brasil. O quinto levantamento da safra brasileira de grãos, divulgado em fevereiro pela Conab, estimou que o estado colherá 428,7 mil toneladas de arroz este ano.

Resgate histórico dessa cultura no Maranhão revela que foram "os açorianos quem introduziram o arroz vermelho no estado, provavelmente entre 1619 a 1649, onde foi cultivado quase que exclusivamente até 1772, quando seu cultivo foi proibido para forçar a produção do arroz branco. Este, por sua vez, era conhecido como arroz de Carolina e seu plantio foi incentivado para abastecer Portugal, que enfrentava problemas de déficit de cereais".

O Maranhão começou a se destacar na década de 1970, quando chegou a ser o primeiro produtor de arroz de sequeiro - ou arroz de terras altas - no país, e o segundo produtor de arroz no total, ocupando 20% das áreas de cultivo e participando com 18% da produção nacional.

A partir da década de 1980, as áreas tradicionais de cultivo, localizadas nos vales dos rios, passaram a ser ocupadas pela pecuária bovina, causando uma significativa redução em área plantada e produção. Apesar da queda no cenário nacional, o Maranhão manteve-se como primeiro produtor de arroz do Nordeste, participando atualmente com 62,5% da produção regional.

Distribuição espacial

A publicação da Conab informa que em relação à localização territorial, a mesorregião centro-maranhense participa com 60% das principais áreas de cultivo de arroz, representada por Arame, Barra do Corda, Grajaú e Tuntum (microrregião do Alto Mearim e Grajaú), e pelos municípios de Bom Jesus das Selvas e Santa Luzia (microrregião do Pindaré), além de Caxias, Colinas, Mirador e Vargem Grande. Estes, por sua vez, respondem por 24% da produção estadual de arroz.

Já a atual cadeia produtiva é desenvolvida através de dois ecossistemas propícios para a produção de arroz: várzea e terras altas. No ecossistema de várzea, existe o sistema de cultivo com irrigação controlada (arroz irrigado) e o cultivo sem irrigação controlada. No primeiro, a cultura é irrigada por inundação contínua e controlada com a formação e manutenção de lâmina de água até a maturação do arroz, sistema adotado nos municípios de Arari, Viana e Vitória do Mearim, localizados na Baixada Maranhense.

Quanto à modalidade sem irrigação controlada (arroz de várzea úmida), caracteriza-se pelo plantio do arroz em áreas de baixadas, nas quais as chuvas e as enchentes dos rios ou afloramento natural do lençol freático são as fontes de água para o desenvolvimento das plantas.

Com relação ao arroz de terras altas, ou arroz de sequeiro, o mesmo é caracterizado pelo plantio em áreas não alagadas, ficando à mercê de boas condições pluviométricas para o perfeito desempenho dos estágios fenológicos da cultura.

Mais

Abastecimento

- Diante da relevância da produção do arroz no estado, é de grande importância que se destaque o comportamento do consumidor quanto ao seu elevado nível de exigência frente à qualidade inferior do produto maranhense.

- Assim, como consequência desse quadro, a qualidade do produto ganha cada vez mais destaque no abastecimento interno, a partir de importações oriundas dos estados de Goiás, Tocantins e Rio Grande do Sul, de produtos de melhor qualidade e que atendam às exigências do consumidor maranhense, além das importações provenientes do Mercosul (Argentina e Uruguai).

Fonte: O Estado do Maranhão - MA

terça-feira, 8 de março de 2016

O Local



Bem antes do meio dia. Baixinho, ou melhor,  Antonilson, mecânico de Anapurus, sentencia: “Em terra alheia, não se reclama de nada.” Ele se referia a uma sequencia de musicas que a dona da casa não cansava de escutar. Música sertaneja. Zeze di Camargo e Luciano. E outros mais que ninguém se deu ao trabalho de guardar os nomes. O Baixinho gostava de tecno brega. Paraense. De Rondon do Pará. Enquanto olhava o problema do carro, Baixinho perguntava: “Quem compra um cd desses ?” A Doura, dona da residência de onde vinha a musica, aproximou-se e ele renovou a pergunta. Ela sorriu meio sem-graça e perguntou para o rapaz ao lado do Baixnho: “Você está gostando?” Não teve coragem de responder. Não queria desafortuna-la. Tão prestativa. Permitiu que estacionassem o carro, que quebrara a correia dentada na noite anterior, à porta de sua casa. No dia seguinte, eles retornaram com o Baixinho. Ela brincou : “Vão levar meu carro que ganhei de presente?”. De cinco em cinco minutos, ela e sua prima queriam saber se eles desejavam algo ou então queriam saber simplesmente “ Isso que é um macaco de um carro?” Por fim, a Doura anunciou que o almoço ficara pronto e que eles estavam convidados para comer uma galinha caipira. A principio, o dono do carro se mostrou pouco receptivo. O Baixinho recomendou que ele comesse, pois o serviço ainda demoraria uma hora. A Doura convidou mais uma vez e ele cedeu. A sua resistência se devia aquela lenga lenga tradicional: “Não quero dá trabalho”. Ele não expôs o que pensava. Seria deselegante. Ele queria mais era ver o serviço terminado e raciocinar como faria para comprar as peças e retornar a Agua Rica, povoado de Anapurus. A galinha caipira serviu como relaxante para todos. Doura e sua prima não precisavam relaxar mais nada de tanto escutarem sertanejo e brega. Logo depois do almoço, Baixinho voltou ao batente e um deles procurou a Doura se ela, porventura, fora à ou passara pela comunidade de Areias. “Sim, conheço lá. É município de Buriti. Por que você quer saber?”  “ Tenho um conhecido que mora lá.” Na verdade, não era bem um conhecido. Só o vira uma vez. Na casa de Vicente de Paula. Povoado Carrancas. Durante uma reunião, na qual se decidiria pela criação ou não da Associação dos Moradores das Nascentes do Rio Preto. As comunidades da Matinha, do Araça, do Marajá, do Capão, das Carrancas e da Cacimba se fizeram presentes desde o inicio. O seu Ataliba chegou bem no final da reunião. O Vicente de Paula topara com ele em Buriti semanas atrás quando fora apresentar sua demanda de regularização fundiária ao Iterma. O Ataliba pleiteava a mesma coisa. Falaram-se por alguns minutos e Ataliba comentou sobre sua Chapada, seus bacurizeiros e sobre um mel que as abelhas fabricam a partir do pólen do bacurizeiro. Ele herdou 200 hectares do seu pai. Desde 1998, o Ataliba resiste às investidas do Andre Introvini, plantador de soja, que pretende tomar a sua Chapada. 
Mayron Régis

segunda-feira, 7 de março de 2016

Produtores do Maranhão calculam perdas de até 40%


Publicada em: 1 de março de 2016
FacebookTwitterGoogle+WhatsAppLinkedIn
Fernanda Farias/Canal Rural
Fernanda Farias/Canal Rural
Forte estiagem no final de 2015 e em fevereiro acabaram com as chances de boa safra
Fernanda Farias | Balsas (MA)
Na safra do Maranhão, o El Niño teve um efeito drástico nas lavouras. O plantio atrasou mais de 50 dias em algumas regiões. A quebra de safra é real e já se espera perdas de até 40%. O custo a mais com o replantio também pesa na conta do agricultor do estado.
O agricultor Paulo Krelling é um exemplo. Mesmo com a propriedade localizada em uma das regiões que mais choveu no Maranhão, a produtividade de 60 sacas por hectare não será alcançada. Pelo menos 30% da safra foi perdida por causa do clima.
As chuvas foram muito irregulares no Maranhão entre outubro e dezembro, que é quando a soja deveria ser plantada. Cerca de 40% da área estimada não foram cultivadas dentro da janela ideal. Depois de um janeiro com um ciclo de chuva adequado, o mês de fevereiro voltou a ser seco. Prejuízo para agricultores como Claudio Brunetta, que investiu mais nesta safra para ter uma produção maior.
– Nós investimos quatro sacas por hectare a mais e o resultado será seis sacas a menos que o ano passado. A gente está pensando na safrinha para recuperar este prejuízo – projeta o agricultor.
O investimento do produtor Claudio Brunetta não deu certo: prejuízos e perda (Fernanda Farias/Canal Rural)
O investimento do produtor Claudio Brunetta não deu certo: prejuízos e perda (Fernanda Farias/Canal Rural)
Na média, 10% das lavouras do estado precisaram do replantio, mas, em algumas áreas, o clima castigou tanto que o replante precisou ser total. Na lavoura do produtor Emir Wendler, depois de 54 dias sem chuvas, produtor replantou mil hectares.
– A expectativa aqui não existe. Não podemos investir porque a situação está complicada – avalia Wendler.
Com o solo seco e a planta fraca, ele abriu mão da aplicação de defensivos. Em 10 anos na região de Balsas, será a pior safra para o agricultor.
– Este será um ano para esquecer. Eu não espero mais que 30 sacas por hectare – lamenta Emir Wendler.
– Na nossa região, temos várias situações, muitas fazendas prejudicadas, outras nem tanto. Devemos ter 40% de perda – explica o diretor do Sindicato Rural de Balsas Marcos Sandri.
Além disso, o tempo firme contribui no surgimento de pragas, como a mosca branca, inseto muito comum nas lavouras da região.
– [A mosca branca] se estabeleceu de tal forma que a maioria das plantas está com fumagina, que inibe a fotossíntese da planta. Não cresceu e agora não vai encher grão porque não tem folha. Em algumas situações é perda total, não tem saída – lembra o consultor técnico do Soja Brasil, Áureo Lantmann.
O pesquisador da Embrapa Dirceu Klepker diz que este é o segundo El Niño que ele acompanha no Maranhão. Na opinião dele, o deste ciclo foi mais intenso. Klepker destaca que o solo arenoso tolera períodos mais curtos de estiagem e, por isso, é importante a cobertura de solo, além da rotação de culturas. Abrir mão da safrinha e investir em cultivares de ciclo médio é outra iniciativa a ser pensada.

Ataliba, povoado de Areias.

Ataliba, morador das Areias, municipio de Buriti. Dezoito anos de luta para impedir que Andre Introvini, plantador de soja e presidente da associacao que representa o agronegocio no Baixo Parnaiba, tome 200 hectares de sua familia.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Relatorios Antropologicos de Cruzeiro e Alto Bonito

1. O SUPERINTENTENDE REGIONAL DO INCRA NO ESTADO DO MARANHÃO, nomeado pela Portaria INCRA/P/N 411/2015, publicada no DOU de 17/08/2015 no uso das suas atribuições que lhe são conferidas pelo Art. 22 da Estrutura Regimental, aprovada pelo Decreto nº 6.812, de 03 de abril de 2009, combinado com o Art. 132 do Regimento Interno do INCRA, aprovado pela Portaria/MDA/nº. 20 de 08 de abril de 2009, publicada no DOU de 09 de abril de 2009, e em cumprimento ao Decreto nº. 4.887, de 20 de novembro de 2003, TORNA PÚBLICO que tramita nesta Superintendência o Processo Administrativo nº. 54230.000631/2008-18, a requerimento de representante da Associação dos Pequenos Produtores Rurais Quilombolas do Povoado Cruzeiro, que trata da regularização fundiária das terras da Comunidade Remanescente de Quilombo de Cruzeiro, localizada no município de Palmeirândia, Estado do Maranhão. O território ora em Processo de regularização é o que consta no Relatório Técnico de Identificação e Delimitação realizado pela equipe multidisciplinar do Quadro de Pessoal do INCRA, instituída pelas Ordens de Serviços/INCRA/SR (12)/GAB/N
.172/2010, de 13 de setembro de 2010, e 51/2014, de 30 de abril de 2014, e aprovada pelo Comitê de Decisão Regional, conforme Ata nº. 06/2015. A comunidade é composta por 64 (sessenta e quatro) famílias eu território identificado e delimitado possui área de 300.5916 hectares (trezentos e dezesseis), dividida em 2 (duas) áreas: Áreas A - 208,1919 há e Áreas B- 92.3997, já excluídas destas, áreas da faixa de domínio da rodovia estadual MA-014, com os seguintes limites e confrontações: norte: Noele de Jesus Barros Gomes; leste: José Maria Pinheiro Moeira. Adílson Pinheiro Moreira e Noele de Jesus Barros Gomes; sul: Noele de Jesus Barros Gomes; oeste Terras do Povoado Caboclo do Mato. No perímetro descrito incide o seguinte registro imobiliário lavrado no Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Palmeirândia-MA: matrícula nº. 545/R-01, do livro 2-C, folhas 049; matrícula nº. 546/R-02, do livro 2-C, folhas 050, ambas em nome de Noele de Jesus Barros Gome. Ficam também cientificados pelo presente edital todos os proprietários, posseiros, lindeiros e demais ocupantes com terras inseridas no todo ou em parte no perímetro acima delimitado, mesmo que não mencionado no presente instrumento. Nestes termos, o INCRA/SR (12)/MA, COMUNICA aos senhores detentores de domínio abrangidos pelo perímetro descrito, aos demais ocupantes, confinantes e terceiros interessados que terão o PRAZO de 90 dias para apresentarem suas contestações ao Relatório Técnico. As contestações, instruídas com provas pertinentes, deverão ser encaminhadas para a Superintendência Regional do INCRA do Maranhão, situada na Avenida Santos Dumont, nº. 18, Anil - São Luís -Ma - CEP: 65.046-660, telefones: (98) 3245-9394 - FAX : (98) 3245-1117. Informa ainda que de segunda a sexta - feira, das 8:00 às 12:00 e das 14:00 às 18:00 horas, o Processo Administrativo nº. 54230.000631/2008-18, em cujos autos se processa o feito, estará à disposição dos interessados para consulta.
1. O SUPERINTENTENDE REGIONAL DO INCRA NO ESTADO DO MARANHÃO, nomeado pela Portaria INCRA/P/N 411/2015, publicada no DOU de 17/08/2015 no uso das suas atribuições que lhe são conferidas pelo Art. 22 da Estrutura Regimental, aprovada pelo Decreto nº 6.812, de 03 de abril de 2009, combinado com o Art. 132 do Regimento Interno do INCRA, aprovado pela Portaria/MDA/nº. 20 de 08 de abril de 2009, publicada no DOU de 09 de abril de 2009, e em cumprimento ao Decreto nº. 4.887, de 20 de novembro de 2003, TORNA PÚBLICO que tramita nesta Superintendência o Processo Administrativo nº. 54230.005031/2007-57, a requerimento de representante da Associação dos Agricultores da Região DE Alto Bonito, que trata da regularização fundiária das terras da Comunidade Remanescente de Quilombo Alto Bonito, localizada no município de Brejo, Estado do Maranhão. O território ora em Processo de regularização é o que consta no Relatório Técnico de Identificação e Delimitação realizado pela equipe multidisciplinar do Quadro de Pessoal do INCRA, instituída pelas Ordens de Serviços/INCRA/SR (12)/GAB/N .055/2011, de 19 de julho de 2011, Ordem de serviço/INCRA/SR (12)/GAB/MS/N .023/2012, de 15 de março de 2012 e a Ordem de serviço INCRA/MA/GAB/N . 010/2015, de 15 de abril de 2015, e aprovada pelo Comitê de Decisão Regional, conforme Ata nº. 08/2015. A comunidade é composta por 32 (trinta e duas) famílias eu território identificado e delimitado possui área de 1.286,2631 hectares (um mil, duzentos e oitenta e seis, vinte e seis ares e trinta e um centeares), com os seguintes limites e confrontações: norte: José Maria Bastos; leste: Hedeiros de Heitor Pinto Aragão, Aldenir Alves Pessoa, Antunes Nunes de Brito, Nélson Teixeira de Freitas, Justino Augusto de Lima Costa; sul: Antônio Pereira Freitas, Maria de Jesus Carvalho, Vilson Ambrozi, Francisco Pereira dos Santos e Vicente Hayashida; oeste Loteamento Comunidade Saco das Almas. No perímetro descrito incide o seguinte registro imobiliário lavrado no Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Brejo-MA: matrícula nº. 1.330, do livro 2-A-C, folhas 67; matrícula nº. 1.331, do livro 2-A-C, folhas 67v, ambas em nome de Manoel Aurélio de sousa: matricula nº. 2.905 - livro 2 AH, folhas 160 em nome de Antonio Gomes da Silva e Raimundo Nonato Fontenele Vieira; matricula nº. 2.479 - livro A-F, folhas 132 em nome de Rosa Fortes Lages Castelo Branco: matricula nº. 2.064/2.162 livro 2 A-E, folhas 106 em nome de Maria Eudes da Conceição Nunes: matricula 2.996- livro 2 A-I folhas 51 em nome de Marcio Yutaka Sonomura e Motharu Sonomura: matricula nº. 3.078-livro 2 -A-I, folhas 133 em nome de Marcio Yutaka Sonomura: matricula nº 934 - livro 2A-B, folhas 38 em nome de José de Assis da Silva Feitosa; matricula nº. 3.318 - livro 2-A-J, folhas 112 em nome de Nelson Texeira de Freitas, matricula nº. 956 - livro 2 -A -B , folhas 60 em nome de Maria de Lordes Soares; matricula nº. 954 - livro 2 -A-B , folhas 58 em nome de Maria Oliveira Braga, além dos registros acima mais seis ocupantes não quilombolas foram identificados: Antonio Ivaldo Vieira; Sebastião Jesuíno Ferreira; José Vanes Ferreira; Raimundo Nonato Fontinele Vieira; José Pereira dos Santos; Vicente Hayashida. Ficam também cientificados pelo presente edital todos os proprietários, posseiros, lindeiros e demais ocupantes com terras inseridas no todo ou em parte no perímetro acima delimitado, mesmo que não mencionado no presente instrumento. Nestes termos, o INCRA/SR (12)/MA, COMUNICA aos senhores detentores de domínio abrangidos por esse território reconhecido, aos demais ocupantes, confiantes e terceiros interessados que terão o PRAZO de 90 dias para apresentarem suas contestações ao Relatório Técnico. As contestações, instruídas com provas pertinentes, deverão ser encaminhadas para a Superintendência Regional do INCRA do Maranhão, situada na Avenida Santos Dumont, nº. 18, Anil - São Luís -Ma - CEP: 65.046-660, telefones: (98) 3245-9394 - FAX : (98) 3245-1117. Informa ainda que de segunda a sexta - feira, das 8:00 às 12:00 e das 14:00 às 18:00 horas, o Processo Administrativo nº. 54230.005031/2007-57, em cujos autos se processa o feito, estará à disposição dos interessados para consulta.
DAYVSON FRANKLIN DE SOUSA

quarta-feira, 2 de março de 2016

ESCASSEZ DE ÁGUA E A FALTA DE TERRA NO BAIXO PARNAÍBA MARANHENSE - O “MATOPIBA VEM AÍ!”. OUÇAMOS O GRITO DE SOCORRO DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS".





A Região do Baixo Parnaíba Maranhense ainda é muito rica em chapadas onde se localizam as nossas cabeceiras de rios e riachos, apesar do grave problema do agronegócio que toma as terras e suga grande parte dos recursos hídricos da região. As populações tradicionais que moram nesse território precisam diretamente das águas e das terras para manter suas sobrevivências, estas comunidades vivem ameaçadas por empreendimentos capitalistas desde muitas décadas atrás, modificam a paisagem e os modos de vida das comunidades atingidas. Primeiro foi o eucalipto que chegou no final da década de 70, depois a soja e outras monoculturas no inicio dos anos 2000. Os problemas fundiários são na maioria causados por invasões de fronteiras agrícolas e extrativistas dos camponeses (as); pois os trabalhadores (as) rurais já se reproduziam há séculos e séculos nessa região. Segunda as palavras do meu amigo Luiz Alves Ferreira, quilombola de Saco das Almas em Brejo, militante do CCN – Centro de Cultura Negra do Maranhão, médico e professor de patologia da UFMA e do mestrado de Saúde e Meio Ambiente, o mesmo dizia certa vez em sua fala documentada “Em vários trechos do Baixo Parnaíba maranhense, Cerrado e Semi-Árido e Mata dos Cocais lavam as mãos e os pés juntos nos rios que formam as bacias do Rio Parnaíba e do Rio Preguiças e que, com suas águas, abastecem as cidades do Baixo Parnaíba”. Com isso é verdade que o problema da escassez de água não atinge apenas as áreas rurais donde brotam as fontes, mas também as cidades, onde vivem a maioria das pessoas. PARA LEMBRETE, o Baixo Parnaíba Maranhense será atingido diretamente pelo grande impacto da NOVA FRONTEIRA AGRÍCOLA, conhecida como MATOPIBA, que resulta de um acrônimo criado com as iniciais dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Essa expressão designa uma realidade geográfica que recobre parcialmente os quatro estados mencionados, caracterizada pela expansão de uma fronteira agrícola baseada em tecnologias modernas de alta produtividade. VAI PASSAR EM 31 microrregiões e 337 municípios dos quatro estados que compõem a região. Ele resulta de um significativo Acordo de Cooperação Técnica assinado entre o INCRA e a Embrapa. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, nesse território existem 324.326 estabelecimentos agrícolas E reúne 337 municípios e uma área total de 73.173.485 ha.  SÓ NO MARANHÃO O PROJETO ABRANGERÁ 33% DO TERRITÓRIO ESTADUAL, (15 microrregiões, 135 municípios, SOMANDO UM TOTAL DE 23.982.346 Hectares de terra). As projeções indicam que essa região, deverá produzir 22,6 milhões de toneladas de grãos no ciclo 2023/2024 e uma área plantada de grãos entre 8,4 e 10,9 milhões de hectares ao final do período das projeções. A Ministra da Agricultura KÁTIA ABREU, afirmou aos empresários árabes e as autoridades de vários países que o MATOPIBA terá um projeto específico de (desenvolvimento), e destacou que o Plano de Investimentos em Logística (PIL) prevê R$ 198,4 bilhões em concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, melhorando a logística de escoamento da produção de alimentos. (Fonte: www.sna.agr.br). PERGUNTAMOS ENTÃO, QUE DESENVOLVIMENTO É ESSE QUE SÓ BENEFICIARÁ OS GRANDES EMPRESÁRIOS? NESSE CENÁRIO COMO VAI FICAR OS CAMPONESES (AS) TRABALHADORES (AS) QUE DESENVOLVEM SUAS PRÁTICAS TRADICIONAIS NA AGRICULTURA FAMILIAR DE SUBSISTÊNCIA? E AINDA MAIS, PARA ISSO, TODOS NÓS SABEMOS que a pouca água que resta em nossa região será utilizada nesse imenso e perigoso empreendimento. OS POVOS TRADICIONAIS NÃO SERÃO BENEFICIADOS, FICARÁ APENAS UM LEGADO DE DESRESPEITO E AMEAÇAS CULTURAIS, ALÉM DA VOTA DA GRILAGEM DE TERRAS E O AUMENTO DOS CONFLITOS FUNDIÁRIOS E SOCIOAMBIENTAIS EM NOSSA REGIÃO.

José A. Basto





Ativista ambiental pelos direitos humanos