quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Um bacurizal arrumado

Os bacurizeiros na propriedade do Ataliba, povoado das Areias, municipio de Buriti, chamaram atenção no exato instante em que eles sairam do carro. Um colchete, de certa forma, "barrava" o carro a poucos metros da casa. Não havia nada demais em estacionar o carro naquele ponto. Pouco provável ele empatar a passagem de algum veiculo. O Vicente de Paula conhecera o Ataliba em uma reunião com o Iterma (Instituto de Terras do Maranhão). O André Introvini, plantador de soja, desmatara de forma ilegal 50 hectares da posse tradicional do Ataliba. Este vivia sozinho sobre a Chapada e não quis confrontar com os funcionários do André. Durante a reunião com o Iterma, o Ataliba explicou seu problema ao Vicente e  falou do mel produzido pelas abelhas tiubas em sua propriedade, um mel com gosto de bacuri. Não é qualquer um que se deleita com um mel desses. 
Seis meses se passaram. O céu de agosto se encheu de nuvens e um vento agradou a todos com um friozinho. A receita certa era dormir embrulhado na rede. Quem quer acordar cedo depois de uma noite como essa?  Os netos do Vicente que iriam à escola, com certeza, não. O Vicente e dona Rita sua esposa, como sempre, acordaram cedo sem se renderem à preguiça matinal. Os outros frequentadores da casa se viram obrigados a levantaram-se para que a preguiça não desse na vista. O senhor Ferreira, morador do Brejão, aguardava-os para uma visita que talvez coincidisse com a visita da vereadora Vanusa Flora, prevista para as dez da manhã. 
A comunidade do Brejão sofre ameaças direto de remanejamento por parte do grupo João Santos que pretende vender a área para o André Introvini. A conversa no Brejão foi rápida, porém produtiva. O grupo João Santos vendeu a área do povoado João Dias, municipio de Duque Bacelar, para o André que a registrará como reserva legal. 
Por volta das oito e meia, eles se despediram do senhor Ferreira e de sua esposa, dona Maria José. Chegou a hora de descobrirem a rota que levava ao Ataliba. O Vicente tinha severas incertezas quanto ao caminho certo. Ele perguntou a dona Maria na Matinha que não respondeu a contento. O Filho, morador do Cajueiro, demonstrou mais propriedade nas respostas. Eles veriam a sede da fazenda do André. Em seguida, um cemitério a esquerda os faria duvidar de suas vistas. Numa bifurcação, o carro partiria para a a direita. Por fim, caberia ao senhor Santinho, no Engenho Velho, confirmar que a casa do Ataliba ficava mais a diante. Os cachorros ladraram. A porta e as janelas da frente fechadas indicavam que a casa se encontrava sozinha. Caminhou-se um pouco, avistando os bacurizeiros. Numa fração de segundos, o enteado do Ataliba surgiu não se sabe de onde. Transportava a sobrinha em uma bicicleta. Deixou as visitas a vontade para apreciarem os bacurizeiros. Algo nos bacurizeiros  intrigou o Vicente. Eles se ajustaram muito bem em um ambiente pouco propenso a sua especie. Isso dava um charme àquele pequeno cercado. "UM bacurizal arrumado", assim o Vicente os designou.
Mayron Régis      

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